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Organizado pela Prof.ª Dra. Rose Pinheiro e coordenado pela Dra. Prof.ª Dulcília Buitoni, o evento teve como objetivo discutir as principais questões a respeito da relação entre a comunicação e educação na sociedade contemporânea, considerando as novas práticas de cidadania e participação social.

O primeiro dia do evento contou com a participação dos professores Cláudia Mogadouro (ECA-USP) e Marciel Consani (ECA-USP) que discorreram sobre as relações nem sempre amistosas do audiovisual com a educação e as narrativas mediáticas na educação, respectivamente.

A Prof.ª Dra. Cláudia Mogadouro é historiadora, com especialização, mestrado e doutorado na ECA-USP, pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação da USP (NCE-USP) e do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura da USP (OBCOM), docente de Práticas de Mídia e Educação da especialização em Educomunicação da ECA-USP e formadora audiovisual de professores da rede municipal da cidade de São Paulo.

Durante a explanação, a Prof.ª Cláudia fez uma reflexão acerca da cultura escolar e da cultura audiovisual, apontou os distanciamentos que existem entre as diferentes tradições.

A primeira, que é a base atual da educação formal, é o espaço do conhecimento e reflexão calcado na cultura letrada, no discurso unidirecional, nos saberes compartimentados e no predomínio do racionalismo.

Já a cultura audiovisual, baseia-se na polissemia, no mosaico de ideias. Nela o saber é descentrado, marcado pela experiência de cada um, aberta às novas sensibilidades. Por outro lado, os produtos audiovisuais possuem compromisso com o mercado, pois são expressões da indústria cultural.

A Prof.ª Cláudia Mogadouro explanou sobre as possibilidades do cinema na escola, ou seja, de se trabalhar com o cinema como espaço de percepção da alteridade. Para a professora, o cinema permite sentir o outro, vestir a pele do outro. É parte da cultura humana e por isso deve fazer parte da educação escolar que se tornaria, desta forma, mais dialógica, comprometida com a formação de novos sujeitos mais preparados para pensar o mundo de uma forma crítica e reflexiva.

O professor Dr. Marciel Consani é pós-doutorando vinculado ao Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Universidade Estadual de Campinas (NIED-UNICAMP) e professor do curso de Licenciatura em Educomunicação do Centro de Comunicação e Artes (CCA) da ECA/USP. Sua formação é de Doutor em Ciência da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Mestre (IA-UNESP) e graduado em Artes/Música, possui Licenciatura Plena em Educação Artística e Especialização em Tecnologia da Educação (PUC-SP).

O professor iniciou a palestra colocando as questões: como interagimos com a mídia na sociedade contemporânea? Como conduzimos nosso processo de mediação social? Que sentido podemos atribuir, hoje, aos construtos sociais perenes, tais como o mito, a figura do herói e a narrativa?

Consani explicou que o educomunicador reflete sobre papel da mídia no processo educativo e que o formador faz uma tentativa de aproximar a educação e a comunicação através de pontes interdisciplinares. Já o pesquisador identifica/estuda as interfaces que perpassam as diferentes áreas do conhecimento, utilizando o eixo interdisciplinar e vivencial do qual os agentes no processo educativo possam se apropriar.

Ao final dos dois painéis, participantes e expositores debateram os temas propostos.

Na manhã do segundo dia do seminário, a professora Rose Pinheiro apresentou um painel a respeito da educomunicação e das novas formas de exercício tanto da cidadania quanto da prática do jornalismo.

Rose Pinheiro é bolsista do Programa Nacional de Pós-Doutorado da Capes e desenvolve seus estudos de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação da Faculdade Cásper Líbero sob a supervisão da Profa. Dulcília Buitoni. A bolsista é doutora em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, mestre em Processos Comunicacionais pela Universidade Metodista de São Paulo, jornalista, formada pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora.

A professora propôs uma reflexão sobre como repensar o jornalismo e a cidadania à luz da nova sociedade, que é seduzida pelos meios de comunicação, e ao mesmo tempo sente um desconforto em relação aos mesmos meios.

Rose Pinheiro traçou um panorama sobre a tecnologia e a comunicação desde a Idade Média até os dias atuais, questionando sobre a sociedade atual e o acúmulo de informação sem reflexão. Ela chamou o momento atual de Idade Mídia, que é a sociedade midiatizada e mediada pela tecnologia.

Atualmente vivemos na sociedade da informação, um modelo industrial de produção de notícia (produção em série de um bem econômico em um contexto industrial) onde há hibridização dos suportes técnicos, reciclagem acelerada do conteúdo e noticiário em tempo real. Quanto mais próximo do “ao vivo”, melhor. O tempo e espaço são redimensionados e cresce o fenômeno da virtualização, isto é, a possibilidade de alguma interação por meios técnicos, sem a necessidade da presença concreta das pessoas.

A educomunicação propõe a introdução crítica das tecnologias para ampliação das redes abertas de diálogo e participação. Assumir a comunicação como um eixo, viés da comunicação, e não como consumo. Garantir o comprometimento político nas unidades pedagógicas, frisar o envolvimento do aluno na escola e na comunidade, entender o aluno como um sujeito envolvido por um entorno social.

À tarde, a doutoranda Silene Lourenço, do programa de pós-graduação da ECA/USP, e o Prof. Dr. Claudemir Viana, do curso de Licenciatura em Educomunicação na ECA/USP, apresentaram várias práticas sobre a experiência educomunicativa, discutindo conceitos, processos e ações políticas ligadas à área. Graduada em história e mestre em Comunicação pela Cásper Libero, Silene trouxe uma reflexão sobre as manifestações de junho de 2013, defendendo o viés político da educomunicação e destacando que os diálogos da época foram promovidos pelos novos educomunicadores. Por sua vez, o Prof. Dr. Claudemir Viana, também graduado em história, com mestrado e doutorado em Ciências da Comunicação, apresentou os diferenciais de diversas práticas educomunicativas, como o Educom.rádio, o portal Educarede e as atividades desenvolvidas pelo CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação.

No final do segundo dia, os participantes foram desafiados a criarem um produto mediático à luz do paradigma da educomunicação. Os grupos aceitaram o desafio e produziram um esboço de uma história em quadrinhos, mostrando a interação entre as pessoas, e um pequeno filme focando o processo da educomunicação, logo compartilhado no Facebook e no YouTube.

Ao longo dos dois dias, o seminário enfatizou que a educomunicação é uma proposta transformadora, marcada pela perspectiva transdisciplinar, que acontece no ambiente formal, não-formal e informal de aprendizagem, amplia a capacidade de comunicação e fortalece as redes.