Em 12 de abril aconteceu na Faculdade Cásper Líbero a segunda edição do Seminário Caminhos da Pesquisa em Comunicação no Brasil, evento organizado e apresentado pelos professores do programa de pós-graduação Luis Mauro Sá Martino e José Eugenio Menezes. O evento, que se estendeu por todo o sábado no auditório Aloysio Biondi, tratou de diferentes temas de interesse dos pesquisadores da área.
Na primeira parte do seminário, procurou-se delinear os caminhos já percorridos pelos primeiros pesquisadores das teorias da comunicação não apenas no Brasil, como em outros países. Mostrou-se assim que as primeiras pesquisas em comunicação no país estiveram extremamente ligadas ao período histórico ditatorial, assim como a aceitação de determinados autores como base para seus estudos. A teoria crítica e as teorias da comunicação de massa tiveram relevância no início dos estudos de comunicação no Brasil entre as décadas de 1960 e 1970.
A partir desse panorama, os professores apresentaram os desenvolvimentos das pesquisas até hoje, mostrando que os temas pesquisados possuem estreita relação com as mudanças tecnológicas, como o surgimento do controle remoto, da internet e da TV a cabo como formas de aumentar os objetos de estudos do campo. Além disso, foi discutida também a variedade de fenômenos que a área de comunicação permite estudar hoje, tanto quanto a questão do estabelecimento de fronteiras e relações da área de comunicação com outras ciências.
Ainda na primeira parte do seminário, foram contempladas as pesquisas em rádio e mídias sonoras. Os professores falaram sobre os primeiros autores a abordarem o meio sonoro, ainda no início do século passado, em sua maioria europeus, mostrando os desenvolvimentos das pesquisas radiofônicas e o fazer acadêmico gerado a partir disso no Brasil, citando importantes nomes do pensamento brasileiro.
Destacou-se também nesse momento que a comunicação não é apenas um meio, mas sim um processo complexo do qual cada um participa com seu corpo. Especialmente, ainda que não exclusivamente, nos processos da cultura do ouvir, o corpo todo está envolvido na comunicação e deve ser considerado para que ela ocorra.
Na segunda parte do evento, a mudança ocorrida na pesquisa em televisão foi a temática inicial. Os professores destacaram a questão da relação desenvolvida atualmente entre a sociedade e as telas, não apenas a da televisão em si, mas a mediação que o indivíduo tem hoje todo o tempo das mensagens e da comunicação por telas.
Foi delineado um histórico do desenvolvimento da TV e das pesquisas em comunicação concomitantemente. Ícones como Silvio Santos e os programas de auditório, o humor da Chacrinha ou a história da Rede Globo foram temáticas amplamente discutidas nas pesquisas em comunicação nas décadas anteriores, enquanto que hoje, as temáticas são mais amplas. A partir de 1990 são inseridos no campo os estudos de recepção da mensagem e análise de conteúdo. Os estudos passam a considerar a intersecção entre a televisão e a vida cotidiana, ou seja, a sociedade passa a ser considerada nos estudos da comunicação.
Ainda neste momento do seminário, foi instigada a questão da pesquisa no momento atual, da realidade da TV Digital e da dissolução do público para os meios digitais, em que, ao mesmo tempo que assiste a novela, o público interage e comenta o capítulo nas redes sociais.
Ainda na questão do ser humano estar envolvido diretamente com a comunicação, no tópico seguinte do evento, falou-se em ecologia da comunicação, que é uma área trabalhada na Faculdade Cásper Líbero, a qual procura compreender que o corpo humano está envolvido no processo comunicacional mesmo num momento em que os ambientes digitais estão tão incessantemente presentes na vida humana. Pois, na prática concreta, a divisão entre virtual e o concreto, não parece mais dar conta dos fenômenos, já que há um trânsito entre o mundo concreto e o virtual, a comunicação parece se esparramar ocupando as capilaridades entre ambos.
Ainda neste mesmo sentido, na sequência, falou-se em internet, mídias digitais e cibercultura. Deixando clara essa articulação contínua entre sociedade e dispositivos de comunicação, resultando em um ambiente digital. Os professores falaram sobre o início das pesquisas em internet no Brasil, que começaram praticamente junto com a liberação comercial da internet no país, em 1995, e sobre como algumas das pesquisas iniciais acabavam por demonizar ou idealizar o meio digital, algo que atualmente tem sido substituído pelo diagnóstico de fenômenos dos ambientes digitais.
Na última parte do evento, os professores falaram sobre a pesquisa em graduação e pós-graduação. Citando os tipos de pesquisas realizadas na área, lembraram a importância da publicação de resenhas e artigos. Incentivaram a participação em eventos, seminários, congressos, seja como ouvinte, ou, preferencialmente, apresentando trabalhos que lhe deem visibilidade às pesquisas.