Formado em jornalismo pela Cásper Líbero e em letras pela Universidade de São Paulo, Guilherme Azevedo voltou à Cásper em 2012 para cursar mestrado em comunicação. Em março deste ano, defendeu sua dissertação sobre o jornalista Marcos Faerman.
Durante a primeira graduação, Guilherme sentiu-se insatisfeito com a definição de que jornalismo deveria ser algo objetivo. Lendo a coletânea de reportagens de Faerman Com as mãos sujas de sangue, encontrou novos conceitos com os quais se identificou. “Acredito em um jornalismo mais livre, poético e subjetivo, sem separação entre você e o mundo. Acredito no esforço em fazer um jornalismo mais real, admitindo não ser possível saber de tudo. E essas características estavam na obra dele”.
Guilherme disse que seu primeiro esforço foi em recolher as obras de Faerman, que estão dispersas. “Escolhi textos que tinham algo de diferente, seja pela beleza, pela construção ou pelo contexto e, naturalmente, os da década de 70 acabaram representando grande parte da seleção.” Depois, o mestrando iniciou um estudo de compreensão das obras, delineando os temas, vocabulário, quais questões Faerman levantava e como se dava a produção das reportagens.
Durante esse processo, Guilherme percebeu que Faerman se rebelava contra a industrialização do jornalismo, de não entrar em contato com os entrevistados e o lugar onde eles estão. Ele era preocupado com a cidade, com questões de urbanismo e com a memória. Seus textos tinham muitas perguntas e não a pretensão de representar a totalidade.
“A natureza do trabalho jornalístico é frágil porque você não passa anos com o entrevistado, você fica poucas horas. Acho honesto reconhecer para o leitor que as limitações existem, isso pode fazer com que ele vá buscar mais informações e não seja passivo. Uma reportagem deve ser o início de uma conversa”, observou Guilherme.
O mestrando também apontou a preocupação que Faerman tinha com o papel do jornalismo na sociedade: “ele fez várias reportagens sobre Gino Meneghetti, um dos mais famosos ladrões de São Paulo. O personagem era anarquista […] e questionava quem era o verdadeiro ladrão, quem é o que neste mundo; Faerman trazia a discussão da construção de ser bandido, da vitimização e do papel da imprensa de condenação”.
Guilherme também contou que foi a uma palestra de Faerman e teve a impressão de que ele era um jornalista romântico, desapegado de eletrônicos. Durante a elaboração da dissertação, notou o contrário: “a técnica foi uma surpresa. Descobri uma foto em que ele está usando um gravador da década de 70, bem grande. Ele acreditava que um gravador, por exemplo, poderia ser um instrumento útil sem acabar com a atenção durante a entrevista”.
“Falar sobre o passado e sobre alguém que já morreu, não é só falar do que já foi, mas mostrar uma atenção com o presente e com o futuro. Ele era preocupado com a vanguarda, amava literatura e trazia isso para o jornalismo, trazia liberdade e questionamento. O resgate da obra dele dá uma intuição do que fazer daqui em diante e mostra um meio de melhorar a produção jornalística”, afirmou Guilherme.
Breve trajetória de Faerman
Em 1960, aos 17 anos, Marcos Faerman começou a escrever para o jornal Última Hora, atual Zero Hora de Porto Alegre. Em 1968 mudou-se para São Paulo e passou a produzir para o Jornal da Tarde, onde passou a maior parte de sua carreira. Bastante reconhecido por seus trabalhos com jornalismo literário e contra a ditadura, Faerman contribuiu muito com a imprensa alternativa. Três anos antes de falecer em 1999, começou a lecionar na Faculdade Cásper Líbero, onde fundou o laboratório de jornalismo Esquinas de S.P., atual revista Esquinas. Até hoje, a sala em que a publicação é elaborada leva o nome do jornalista.