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Na noite de 14 de março de 2016, o presidente executivo da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (ABRACOM) – Carlos Henrique Carvalho – ministrou a Aula Magna de Relações Públicas na Faculdade Cásper Líbero. Antes de começar sua aula, Carvalho aceitou ter uma conversa com a monitora da Coordenadoria de Relações Públicas, Mariana Franco, a fim de contar um pouco mais sobre sua trajetória e como chegou na Abracom.

Leia a seguir a entrevista completa:

Mariana Franco: A sua carreira começou na área jornalística. Como você tomou este rumo diferente, ou seja, atuando em um cargo na área de Relações Públicas? Como foi essa sua trajetória?

Carlos Carvalho: Eu trabalhei com jornalismo, efetivamente aquilo que eu considero jornalismo, por dois anos, em jornalismo diário. Depois disso eu passei a fazer programas de debate e documentários, programas na área de educação, que eu sempre considerei menos jornalísticos e mais de produção de televisão, embora eu fosse contratado como jornalista e tivesse que aplicar todas as ferramentas do jornalismo, mas não era jornalismo diário, não lidava com notícias do dia a dia, e sim com matérias produzidas, especiais […]. Fiz trabalho de televisão durante quase 20 anos e estava saindo de um longo período dirigindo um programa chamado Modernidade, que era apresentado pelo professor Mario Sergio Cortella, e me perguntando o que eu faria, até que surgiu um convite por meio de um amigo em comum com pessoas que estavam fundando a Abracom em 2002 e precisavam de alguém que tivesse algum conhecimento de política, de entidades de terceiro setor – eu tinha – e que não tivesse ligação nenhuma com agências de Relações Públicas e de Assessoria de Imprensa, porque eles não queriam ninguém que tivesse vínculo com agências ou empresas do setor. Então acabei sendo contratado, justamente por não conhecer o setor.

O que foi interessante é que eu tive um período de aprendizado muito longo, eu considero que continuo aprendendo, mas um período de entender o que era aquele mercado, que na verdade estava deixando de ser um mercado de Assessoria de Imprensa de um lado e Relações Públicas de outro para se integrar em uma perspectiva de comunicação multidisciplinar, e a gente tem percebido então, desde 2002 […] que esse mercado tem evoluído muito no ponto de vista conceitual, no ponto de vista das práticas e tudo o mais. Nos primeiros anos fazia muito a parte de comunicação da entidade e obviamente trazia os vícios da formação jornalística, então eu demorei a entender e a compreender efetivamente o que era um programa mais ampliado de Relações Públicas a ser aplicado na comunicação da entidade com os associados e com o mercado. Mas foi um aprendizado interessante e hoje eu tenho dito que: se a expressão “Relações Públicas” pudesse ser usada livremente, se não tivesse impedimentos legais eu me apresentaria como um profissional de Relações Públicas”.

Mariana Franco: Por conta da sua experiência, como você acha que os profissionais de Jornalismo e de Relações Públicas poderiam integrar os seus conhecimentos, qual o valor disso hoje em dia?

Carlos Carvalho: O mercado já faz isso na verdade, a integração entre diversas formações é uma realidade crescente nas agências de comunicação e nas áreas de comunicação das empresas. Se a gente olhar a composição e a formação dos profissionais que dirigem a comunicação nas empresas, por exemplo, veremos engenheiro, administrador […]. Nas agências a predominância ainda é de profissionais formados em comunicação, especialmente jornalistas, relações públicas e publicitários, mas a tendência é cada vez maior de pulverização, de multidisciplinaridade e, como diz o Paulo Nassar, da Aberje, de miscigenação dessas equipes. Por quê? Porque o trabalho de Relações Públicas, como é conhecido internacionalmente, é um trabalho de perspectiva multidisciplinar, é a junção de profissionais formados em várias áreas do conhecimento atuando em programas de relacionamento, obviamente com especialistas, com gente que se dedicou a entender os processos de Relações Públicas fazendo o elo desse trabalho, e muitos desses que são formados em outras áreas também fazendo especializações para entender mais de Relações Públicas.

A essência da atividade, internacionalmente, é multidisciplinar e é assim que está acontecendo nas agências brasileiras. Então a integração se dá no mercado. Na academia a gente ainda tem muros, por um problema da grade curricular, da orientação curricular do MEC e talvez por um histórico de corporativismo das duas profissões que você citou especialmente […]então se a integração, não existir nos bancos universitários, ela existirá, com certeza, no mercado.

Mariana Franco: Uma vez que você já tenha atuado na mídia e também na Prefeitura de São Paulo, como você entende o sistema de manipulação e persuasão que estão presentes na mídia de massa e qual a responsabilidade do relações públicas nesse processo?

Carlos Carvalho: Esse é um tema complexo e espinhoso […] acho que a democracia não existe sem uma mídia independente e crítica. Em muitos casos, vemos que a nossa mídia tem problemas de estrutura, de modelo de negócios e de alinhamento político que acaba fazendo com que muitas coisas que a gente vê, lê ou ouve nos meios de comunicação digitais, tenha um viés extremamente ideologizado ou uma pauta política. Veículos de comunicação tomam posição no mundo inteiro, nos processos políticos, mas costumam manter independência, redação separada da posição editorial, diferente do Brasil, em que as coisas estão muito misturadas e eu acho que a posição do jornalismo está muito fragilizada. As redações estão muito pequenas, os salários são baixos, houve uma substituição intensa de profissionais mais experientes pelos mais jovens, não como uma estratégia de “reoxigenação”, mas como uma estratégia de rebaixar mesmo os custos, então acho que a nossa mídia tem problemas sérios, com algumas exceções – que são raras – e com iniciativas coletivas, novos modos de financiar a comunicação que podem ser um caminho para o jornalismo. A área de Relações Públicas é uma parceira importante da mídia e ela tem o dever de atuar com a informação bem trabalhada, bem construída, em cima da verdade dos fatos. Obviamente que as empresas têm o direito de externar suas opiniões e é para isso que as agências de comunicação, ainda mais de comunicação corporativa, estão no mercado: para ajudar essas pessoas a externar suas opiniões, mas tem que ser com ética, com compromisso com a verdade e com compromisso com a democracia. As Relações Públicas são essenciais para a manutenção de uma mídia independente e forte e os profissionais da nossa área precisam entender o seu papel de interlocutores, de fornecedores de informações relevantes, verdadeiras e baseadas em ética.

Mariana Franco: Agora para finalizar nossa conversa, tem alguma coisa que você queira falar para os estudantes de Relações Públicas que a gente não discutiu aqui ou que você não abordará na aula?

Carlos Carvalho: Acho que é importante entender que esse mundo da multidisciplinariedade abre muita concorrência com outras áreas, mas também abre muitas oportunidades. A área de comunicação corporativa cresce, tem espaço para crescer e vai continuar crescendo no mercado brasileiro. É preciso que o estudante entenda que as agências e o mercado como um todo procuram talentos. Talentos que são baseados no conhecimento amplo, na capacidade de pensamento estratégico e não apenas nas tarefas técnicas. Acho que todo profissional na área de comunicação que se reduz e se limita a uma atividade técnica […] e que não pensa como um todo está fadado a ser um técnico para o resto da sua vida. Aqueles que querem desenvolver uma carreira interessante e mais ampla precisam pensar mais sistemicamente, precisam ir além dos ensinamentos técnicos.