Em Esperando Godot, de Samuel Beckett, dois vagabundos conversam sobre assuntos ininteligíveis e desconexos enquanto simplesmente – como avisa o título– esperam pelo misterioso Godot. A comunicação é crua, já que, na total falta de sentido do mundo, a linguagem não tem valor de compreensão. O teatro do absurdo caracteriza essa perda de razão do ser humano, da existência, e o tema se repete na nova série da MTV Brasil, A Menina sem Qualidades.
Baseada no livro homônimo da escritora alemã Juli Zeh, a série estreou em 27 de maio. Nela acompanhamos Ana, uma jovem de 16 anos extremamente inteligente e, é claro, a outcast da escola, que sofre bullying e impressiona os professores. O estereótipo mais repetido de toda a televisão, talvez? Não é o caso em A Menina Sem Qualidades, que desconstrói os tipos sociais que utiliza. Ana é fruto de um lar desfeito, porém, em vez de se punir pelo pai ausente, ela sente falta do padrasto e não se dá bem com a mãe, que parece ainda não ter saído da adolescência psicológica. Atraída por Alex, interpretado brilhantemente por Rodrigo Pandolfo (de O Despertar da Primavera), os jovens se envolvem num jogo arquitetado para passar o tempo e testar as regras de comportamento.
Outro grande destaque na série foi a participação-relâmpago de Wagner Moura, que interpreta o pai de Alex num flashback. Já Bianca Comparato, que já participou de seis novelas na Rede Globo, possui altos e baixos em sua atuação como Ana. As lacunas aparecem somente nos grandes discursos, quando a jovem revela suas opiniões sobre a inexistência de sentido da vida e a sua indiferença. Ana e Alex se consideram “bisnetos do niilismo”, dispostos a arriscar a vida para conhecer os limites das relações humanas. Por isso, sem explicação, um manipula o outro e ambos jogam contra Tristan, papel de Javier Drolas (de Medianeras), o professor de espanhol casado que é seduzido e chantageado pela dupla.
A história é interessante. O roteiro, melhor ainda. Escrita por Marcelo Backes, Renata Melo e Felipe Hirsch, a série procura adaptar a linguagem culta dos professores e jovens ao público em geral, mantendo a beleza e complexidade do texto. Felipe Hirsch, aliás, acostumado a dirigir teatro, se deu muito bem no ambiente televisivo. Dirigiu Paulo Autran em O Avarento e Marco Nanini no sucesso Pterodáctilos. A experiência do diretor nas telas veio em 2008, quando começou a rodar Insolação, em parceria com Daniela Thomas.
O alarde da MTV Brasil sobre a série foi grande, porém não é a primeira vez, e não será a última, que o canal é responsável por esse tipo de produção. Em 2009, a série Descolados foi exibida no canal, e, mais tarde, na TV Bandeirantes. A produção ia ao ar por volta do mesmo horário, mas não tocou em polêmicas como A Menina Sem Qualidades, que fala de homossexualidade, psicopatia e controle de maneira quase imperceptível, tamanha a indiferença demonstrada pelas personagens principais quanto as suas ações.
No caso de A Menina Sem Qualidades, a história é contada em doze episódios de meia hora. A série teve direito à exibição de making of e playlist organizada pelo diretor na estreia. A seleção musical é boa, mas peca pelo excesso. A meia hora de músicas sem vídeo anterior ao episódio de estreia deve ter feito muita gente mudar de canal. Também houve cenas lentas e altamente musicais, em detrimento da narrativa, o que prejudicou os primeiros episódios. A série toma fôlego somente depois da terceira parte, quando a presença de Alex é mais forte e começam as atitudes que transcendem as barreiras sociais, bem como os discursos poéticos e nem sempre elucidativos de Ana. Para quem vive sem sentido, faz todo o sentido.
Em Esperando Godot, de Samuel Beckett, dois vagabundos conversam sobre assuntos ininteligíveis e desconexos enquanto simplesmente – como avisa o título– esperam pelo misterioso Godot. A comunicação é crua, já que, na total falta de sentido do mundo, a linguagem não tem valor de compreensão. O teatro do absurdo caracteriza essa perda de razão do ser humano, da existência, e o tema se repete na nova série da MTV Brasil, A Menina sem Qualidades.
Baseada no livro homônimo da escritora alemã Juli Zeh, a série estreou em 27 de maio. Nela acompanhamos Ana, uma jovem de 16 anos extremamente inteligente e, é claro, a outcast da escola, que sofre bullying e impressiona os professores. O estereótipo mais repetido de toda a televisão, talvez? Não é o caso em A Menina Sem Qualidades, que desconstrói os tipos sociais que utiliza. Ana é fruto de um lar desfeito, porém, em vez de se punir pelo pai ausente, ela sente falta do padrasto e não se dá bem com a mãe, que parece ainda não ter saído da adolescência psicológica. Atraída por Alex, interpretado brilhantemente por Rodrigo Pandolfo (de O Despertar da Primavera), os jovens se envolvem num jogo arquitetado para passar o tempo e testar as regras de comportamento.
Outro grande destaque na série foi a participação-relâmpago de Wagner Moura, que interpreta o pai de Alex num flashback. Já Bianca Comparato, que já participou de seis novelas na Rede Globo, possui altos e baixos em sua atuação como Ana. As lacunas aparecem somente nos grandes discursos, quando a jovem revela suas opiniões sobre a inexistência de sentido da vida e a sua indiferença. Ana e Alex se consideram “bisnetos do niilismo”, dispostos a arriscar a vida para conhecer os limites das relações humanas. Por isso, sem explicação, um manipula o outro e ambos jogam contra Tristan, papel de Javier Drolas (de Medianeras), o professor de espanhol casado que é seduzido e chantageado pela dupla.
A história é interessante. O roteiro, melhor ainda. Escrita por Marcelo Backes, Renata Melo e Felipe Hirsch, a série procura adaptar a linguagem culta dos professores e jovens ao público em geral, mantendo a beleza e complexidade do texto. Felipe Hirsch, aliás, acostumado a dirigir teatro, se deu muito bem no ambiente televisivo. Dirigiu Paulo Autran em O Avarento e Marco Nanini no sucesso Pterodáctilos. A experiência do diretor nas telas veio em 2008, quando começou a rodar Insolação, em parceria com Daniela Thomas.
O alarde da MTV Brasil sobre a série foi grande, porém não é a primeira vez, e não será a última, que o canal é responsável por esse tipo de produção. Em 2009, a série Descolados foi exibida no canal, e, mais tarde, na TV Bandeirantes. A produção ia ao ar por volta do mesmo horário, mas não tocou em polêmicas como A Menina Sem Qualidades, que fala de homossexualidade, psicopatia e controle de maneira quase imperceptível, tamanha a indiferença demonstrada pelas personagens principais quanto as suas ações.
No caso de A Menina Sem Qualidades, a história é contada em doze episódios de meia hora. A série teve direito à exibição de making of e playlist organizada pelo diretor na estreia. A seleção musical é boa, mas peca pelo excesso. A meia hora de músicas sem vídeo anterior ao episódio de estreia deve ter feito muita gente mudar de canal. Também houve cenas lentas e altamente musicais, em detrimento da narrativa, o que prejudicou os primeiros episódios. A série toma fôlego somente depois da terceira parte, quando a presença de Alex é mais forte e começam as atitudes que transcendem as barreiras sociais, bem como os discursos poéticos e nem sempre elucidativos de Ana. Para quem vive sem sentido, faz todo o sentido.
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