Foco de luz no centro do palco. Um jovem rapaz dá início à canção Pro dia nascer feliz, de Cazuza. Aos poucos, diferentes vozes se juntam ao coro. Artistas como Katy Perry, Freddie Mercury, Axl Rose e Rita Lee surgem de diferentes cantos do palco. Tudo acaba quando uma mãe entra, brava com o volume da música. O rapaz, Alef, leva bronca, se irrita, mas não responde. Ele não fala há quinze anos.
Enquanto isso, Sofia chega do exterior à casa do pai, o empresário Orlando, que pretende organizar um festival de música no Brasil. Ao contrário de Alef, a jovem não tem problemas em colocar em palavras o que sente e tem pavor de música. É com uma mescla de núcleos em uma só cena e ao som de hits de George Michael, Barão Vermelho e Os Paralamas do Sucesso que tem início Rock in Rio – O Musical.
O espetáculo, após ser visto por mais de 60 mil pessoas no Rio de Janeiro, estreou no Teatro Alfa, em São Paulo, no dia 7 de junho. Com um orçamento de 12 milhões de reais e embalado por 50 hits de artistas que marcaram as edições do Rock in Rio, o musical alterna momentos de humor e drama com personagens vivos e encantadores, que se revezam em solos e coreografias bem elaboradas. O espectador logo sente que há espaço para todos, garantido pelo passeio por diferentes gêneros musicais.
A ideia de produzir um musical inspirado no Rock in Rio – um dos maiores festivais de música do mundo – partiu do criador deste, Roberto Medina. O espetáculo tem direção de João Fonseca (Tim Maia – O Musical) e uma história original, escrita por Rodrigo Nogueira (vencedor do Prêmio Shell por Play). Um dos maiores trunfos de Rock in Rio – O Musical é o fato de ser contado de maneira emocionante, mas na medida certa.
Alef (Hugo Bonemer, de Hair) e Sofia (Yasmin Gomlevsky, O Diário de Anne Frank) são jovens marcados por traumas familiares, com os quais ambos não sabem lidar. O encontro é o ponto de partida para uma viagem conduzida por canções que fazem parte da trilha sonora da vida de muita gente. Wonderwall do Oasis, Marvin dos Titãs, Every Breath You Take do The Police e Primeiros Erros do Capital Inicial são algumas das músicas que embalam a jornada do casal.
Além dos bastidores da organização do festival, o espetáculo lida com temáticas políticas, como o engajamento estudantil em uma época em que as feridas deixadas pelo regime militar começavam a cicatrizar. Há sempre uma canção para cada momento, seja ele de alegria ou angústia, o que facilita a criação de uma empatia por parte do público.
São 20 cenários dinâmicos, cerca de 125 objetos coloridos e 25 atores em cena. A sintonia do elenco é um espetáculo a parte. Com destaque para as performances arrebatadoras de Ícaro Silva e Caike Luna, intérpretes de Marvin e Geraldo. Yasmin Gomlevsky tem um ótimo alcance vocal e dá vida a uma Sofia de personalidade forte. Já Hugo Bonemer vem arrancando elogios da crítica por seu talento em seus últimos trabalhos, o que não é diferente neste musical.
Em meio a tantas adaptações de títulos da Broadway, Rock in Rio – O Musical prova ser possível produzir musicais originais de boa qualidade em solo brasileiro. Apesar de apoiado em músicas com forte apelo comercial e popular, o espetáculo traz uma história forte, inovadora e emocionante, capaz de divertir e cativar os seus espectadores.