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Scarlett Johansson como Janet Leigh, Anthony
Hopkins como Hitchcock e Helen Mirren como Alma
Reville
 

A mulher no banho, a música macabra, a faca na mão assassina e uma câmera muito mais sugestiva do que explícita: a mais famosa cena de Psicose entrou para a história cinematográfica juntamente com seu diretor, Alfred Hitchcock. Essa produção dos anos 60 é o ponto de partida de Hitchcock, que está em cartaz no Brasil desde o início do mês.

Alfred, ou “Hitch” (interpretado por Anthony Hopkins), começa o filme envelhecido e no auge de sua carreira. Mesmo recebendo desaprovação da mídia, da indústria cinematográfica e da censura, o cineasta mantem-se decidido a filmar Psicose, trabalho diferente de tudo o que ele já havia feito. O enredo originou-se de um livro de terror sanguinolento e sensacionalistade mesmo nome, escrito por Robert Bloch, e esse gênero parecia destoar bastante das produções do refinado mestre do suspense. Hitchcock propôs a ideia para grandes estúdios, mas nenhum deles estava disposto a financiar algo que poderia resultar em um grande fracasso. O diretor, então, arriscou tudo, produzindo o filme inteiro com seu próprio dinheiro.

E mesmo que hoje já saibamos que Psicose foi um sucesso, fica difícil não se envolver com o clima de expectativa do filme. O ator Anthony Hopkins faz uma ótima performance como Hitchcock, que é ainda mais destacada pela maquiagem – que, por sinal, rendeu ao filme a indicação ao Oscar –, deixando-o parecidíssimo com o próprio diretor.
 
Mas não se engane: o foco do filme não é o “diretor genial”. Pelo contrário, existe uma preocupação em mostrar que o mestre do suspense tem várias outras faces. Há o seu lado  preocupado com o público, que anseia agradar a todo custo. Há o seu lado paranoico, que mostra em certos momentos o diretor afetado por pesadelos e medos. Há, também, o lado perverso, que escalava as mais belas atrizes em suas produções e as tratava de maneira arrogante e muitas vezes cruel. E, por último, e mais importante, o filme mostra um Hitchcock diferente de todos os outros: o Hitchcock marido.

Seu relacionamento com a esposa é o núcleo da trama. Pouquíssimas pessoas já ouviram falar de Alma Reville, mas a mulher do grande cineasta não só aparece como também rouba grande parte das cenas. Interpretada maravilhosamente por Helen Mirren, Alma é o braço direito do cineasta, e também responsável, nos bastidores, por partes essenciais da produção das obras. Ela é uma verdadeira heroína anônima, e o filme procura atribuir-lhe muitos dos créditos que foram atribuídos somente ao diretor.

Justamente por focar a vida do casal, o filme acaba adquirindo um tom mais leve e menos biográfico, como poderia se esperar. Ao contrário, temos uma história envolvente e até mesmo um pouco caricata, na representação do diretor excêntrico. O diretor de Hitchcock, Sacha Gervasi, conduz a trama com o intuito de divertir e entreter, e não de criar um retrato completamente fiel do cineasta, incluindo até vários elementos fictícios no filme.

Esse misto de ficção e realidade não torna o filme uma representação indigna. Foi um excelente trabalho sobre o grande mestre das câmeras, mostrando um diretor obstinado, dedicado e inteligente, além de ser uma produção que nos prende do início ao fim. O filme cumpre sua missão, fazendo com que o espectador saia da sala de cinema com vontade de ver, ou rever, a obra prima Psicose sob um ponto de vista bastante diferente. E que saia, também, tão fã de Alma Reville quanto de seu marido.