Sakamoto durante aula magna
Crédito: Rodrigo Rosa

 

Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Paulistano, cresceu no Campo Limpo e teve contato com variadas realidades sociais durante a sua infância. Sendo assim , viu na profissão de jornalista uma ferramenta de mudança social. Tinha na mente a vontade de mudar o mundo e foi subestimado por alguns professores enquanto fazia seu curso pela Universidade de São Paulo. Depois de algumas decepções e a perda de uma certa inocência, ele passou a constatar: “O jornalista não será um super-herói. Ele é quem alimenta os super-heróis de informação”.

Teve um começo de carreira profissional convencional e chegou a passar em alguns dos grandes veículos de comunicação até pedir demissão .Decidiu viajar o Brasil por conta própria, fazia suas reportagens e ficava a mercê da aprovação delas por alguns de seus contatos. Não tinhacondições financeiras excepcionais, portanto fazia suas viagens de ônibus, conheceu e fez reportagens sobre todos os Estados brasileiros assim. Como diversas viagens chegavam a durar mais de 50 horas, Leonardo Sakamoto conta que suas matérias começavam a partir de suas saídas das rodoviárias, conseguia informações preciosas com os viajantes do seu mesmo destino, que em muitos casos eram pessoas que não haviam conquistado oportunidades nas grandes cidades.

Em 1998, foi para o Timor Leste, país que lutou um quarto de século pela sua independência da Indonésia sem receber nenhuma ajuda internacional, claramente inviabilizada pelos interesses de outros países em manter uma relação estável com os invasores. Sakamoto ficou uma semana no Acampamento Central da Guerrilha Timorense e entrevistou figuras como Xanana Gusmão, o chefe da resistência, conhecido como “Mandela Timorense”, que veio a ser o primeiro presidente da república do país. Sua maior intenção era a de trazer a discussão da democracia para o Brasil, que já possuía gerações que não faziam ideia de seu significado e o que havia sido a ditadura brasileira. Deu palestras em diversas escolas públicas do ensino fundamental após sua volta, enaltecendo a ideia do que é liberdade e democracia.

Cobriu conflitos armados como o da Angola – que, ao contrário do Timor Leste, não transparecia nenhum tipo de esperança, pois nenhuma força vencedora garantiria uma melhoria a sua população – e o do Paquistão em 2007, fazendo denúncias sociais das consequências do conflito, como o caso da escravidão hereditária.

Em 2001, foi um dos fundadores da ONG Repórter Brasil, responsável por identificar graves casos de violação dos direitos humanos. Nesses 12 anos de existência, a ONG criou um grupo de jornalismo investigativo, rastreando produtos que tem origem de trabalho escravo, trabalho infantil, do desmatamento ilegal e danos às populações indígenas, além de serem responsáveis pela realização de documentários, como o Carne e Osso – O Trabalho em Frigoríficos, que foi bastante premiado e culminou numa investigação das condições de trabalho dos principais frigoríficos brasileiros, denominada Moendo Gente (moendogente.org.br). Ele também é representante da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.

Em 2006, nasceu o blog do Sakamoto, que ele considera quase um retorno para o jornalismo, já que ser o diretor de uma redação da Repórter Brasil acabou transformando-o mais num administrador de empresa. Ele sentia muito a necessidade de fazer reportagem, o produto notícia, a análise. Com o blog foi proporcionado um desafio praticamente diário. Sakamoto não esperava a repercussão toda que o veículo tomou, as discussões amplas e não vinculadas com textos hiper-codificados, de difícil interpretação, acabaram por atrair as pessoas para o debate. O blog consegue canalizar novas formas de fazer política e procura sempre justificar suas críticas tratando de assuntos cônicos.

Leonardo Sakamoto é contra a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão, mas revela a importância de uma formação para o processo de reflexão. O curso tem um papel fundamental de aprendizado crítico e a apresentação para os modelos de Jornalismo. Defende a profissão como a melhor do mundo e sugere para os futuros profissionais da área: “Faça com vontade, independentemente do tipo de jornalismo que você optar, expresse sua felicidade com o que você faz, tenha um diferencial. Vocês são felizardos por presenciarem um momento de crise: crise em latim remete a mudança. Os modelos não sabem dos seus futuros, são necessárias boas ideias e muita paciência. A criação de novos veículos é essencial. O processo é árduo, mas está na hora de vocês criarem suas próprias alternativas” .