Foto: Beto Héktor

 

Dizer que um músico encontrou um formato ideal pode parecer um tanto quanto presunçoso, visto que a música é uma forma de expressão artística expansiva e dotada de diferentes campos de experimentação. Porém, alguns artistas mostram isto de uma maneira muito clara e perceptível, atingindo maturidade de produção e composição. É o caso de Paulo Miranda, músico natural de Pouso Alegre, Sul de Minas Gerais, que acaba de lançar seu EP intitulado Miolo. O trabalho – gravado no estúdio de sua própria casa -, conta com seis faixas autorais produzidas em conjunto com o seu irmão Rafael Miranda. 
A canção de título Maya faz menção à deusa inca de mesmo nome. Segundo a mitologia, esta deusa rege nossos maiores temores e nossa maior luz pessoal; é o contraste entre o que temos de divino e demoníaco dentro de nós mesmos e o poder de criar ilusão. E a música sugere exatamente isto: “Essa é a Maya/Maya trabalha a dor/Veja que atrapaia, navalha, sim senhor!/Essa é a Maya/Veja que não cala/Não falha esse furor “
A segunda faixa, A-morte-cer, é estruturada principalmente pela poesia concreta. A melodia criada para a música permite que as várias formas de se encaixar a palavra amor dentro da estrutura melódica ganhe também vários significados. Através de anáforas, o amor é analisado de diversos prismas. Desde o sentido positivo de “AMAdurecer” até o negativo de “AMORdaçar”. A sugestão aqui é sobre as impossibilidades de amar, o amor eterno e a busca incessante do ser humano em alcança-lo.
Farelo e Conto ou Não Conto? dão continuidade ao EP.  A primeira é um esboço da canção Maya, explorado de outras diversas texturas sonoras. A segunda estrutura-se a partir de assonâncias que são dinamizadas e intensificadas com o minucioso trabalho de composição musical. Passagens conferem um sentido de espiritualidade, medos, libertações e esperanças do compositor.
Um dos pontos altos da obra, a canção Grato, é um manifesto de amabilidade do compositor a todos que o ajudaram em sua história como músico e como pessoa. “Certo dia, eu li um poema do Pablo Neruda em que ele agradece a várias coisas que são ou parecem insignificantes, daí tive um lampejo. Escrevi um longo poema e comecei a pensar em melodias. Estava sozinho em casa e fiz um esboço da música em algumas horas”  conta Miranda.
A última faixa, Conto, é na verdade um corte de Conto ou não conto com uma melodia diferente. O clima ambiente da música se mistura aos acordes de bossa nova que dinamizam os versos de uma forma muito peculiar. As passagens “Te joga, te prova/Desova na sua linda infinda/Nova manhã/A gente se atira na mira/Na ira da flecha, na mecha/Da parte proibida da maçã” ganham um sentido mais intimista e assinam  com maestria o final da obra.
O EP Miolo atesta o trabalho artístico e o empenho na produção dos irmãos Paulo e Rafael Miranda. A obra comunica-se musicalmente com a estética da arte de vanguarda, contendo passagens sublimes, experimentais e sugestivas. Por outro lado, há no disco um viés intimista muito profundo. Uma poesia moderna, talhada detalhadamente nas melhores formas de se encaixar as melodias. A influência literária – no que  diz respeito a estética e construção – da poesia  concretista dialoga perfeitamente com a musicalidade da poesia simbolista, ambas claramente notórias na obra. Ousadia e talento para experimentar, mas com muita cautela para transformar concepções musicais pré-estabelecidas em formatos novos e significativos para o contexto atual.
Você confere aqui, na íntegra, o EP do músico: http://pumuca.bandcamp.com/album/miolo

Dizer que um músico encontrou um formato ideal pode parecer um tanto quanto presunçoso, visto que a música é uma forma de expressão artística expansiva e dotada de diferentes campos de experimentação. Porém, alguns artistas mostram isto de uma maneira muito clara e perceptível, atingindo maturidade de produção e composição. É o caso de Paulo Miranda, músico natural de Pouso Alegre, Sul de Minas Gerais, que acaba de lançar seu EP intitulado Miolo. O trabalho – gravado no estúdio de sua própria casa -, conta com seis faixas autorais produzidas em conjunto com o seu irmão Rafael Miranda. 

A canção de título Maya faz menção à deusa inca de mesmo nome. Segundo a mitologia, esta deusa rege nossos maiores temores e nossa maior luz pessoal; é o contraste entre o que temos de divino e demoníaco dentro de nós mesmos e o poder de criar ilusão. E a música sugere exatamente isto: “Essa é a Maya/Maya trabalha a dor/Veja que atrapaia, navalha, sim senhor!/Essa é a Maya/Veja que não cala/Não falha esse furor “

A segunda faixa, A-morte-cer, é estruturada principalmente pela poesia concreta. A melodia criada para a música permite que as várias formas de se encaixar a palavra amor dentro da estrutura melódica ganhe também vários significados. Através de anáforas, o amor é analisado de diversos prismas. Desde o sentido positivo de “AMAdurecer” até o negativo de “AMORdaçar”. A sugestão aqui é sobre as impossibilidades de amar, o amor eterno e a busca incessante do ser humano em alcança-lo.

Farelo e Conto ou Não Conto? dão continuidade ao EP.  A primeira é um esboço da canção Maya, explorado de outras diversas texturas sonoras. A segunda estrutura-se a partir de assonâncias que são dinamizadas e intensificadas com o minucioso trabalho de composição musical. Passagens conferem um sentido de espiritualidade, medos, libertações e esperanças do compositor.

Um dos pontos altos da obra, a canção Grato, é um manifesto de amabilidade do compositor a todos que o ajudaram em sua história como músico e como pessoa. “Certo dia, eu li um poema do Pablo Neruda em que ele agradece a várias coisas que são ou parecem insignificantes, daí tive um lampejo. Escrevi um longo poema e comecei a pensar em melodias. Estava sozinho em casa e fiz um esboço da música em algumas horas”  conta Miranda.

A última faixa, Conto, é na verdade um corte de Conto ou não conto? com uma melodia diferente. O clima ambiente da música se mistura aos acordes de bossa nova que dinamizam os versos de uma forma muito peculiar. As passagens “Te joga, te prova/Desova na sua linda infinda/Nova manhã/A gente se atira na mira/Na ira da flecha, na mecha/Da parte proibida da maçã” ganham um sentido mais intimista e assinam  com maestria o final da obra.

O EP Miolo atesta o trabalho artístico e o empenho na produção dos irmãos Paulo e Rafael Miranda. A obra comunica-se musicalmente com a estética da arte de vanguarda, contendo passagens sublimes, experimentais e sugestivas. Por outro lado, há no disco um viés intimista muito profundo. Uma poesia moderna, talhada detalhadamente nas melhores formas de se encaixar as melodias. A influência literária – no que  diz respeito a estética e construção – da poesia  concretista dialoga perfeitamente com a musicalidade da poesia simbolista, ambas claramente notórias na obra. Ousadia e talento para experimentar, mas com muita cautela para transformar concepções musicais pré-estabelecidas em formatos novos e significativos para o contexto atual.

Você confere aqui, na íntegra, o EP do músico.