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Siga a estrada de tijolos amarelos. Esse é o convite tentador que a menina Dorothy recebe ao chegar no mundo de Oz após um furacão passar pela sua casa no estado do Kansas. O livro O Maravilhoso Mágico de Oz foi escrito em 1900 por L. Frank Braum e rapidamente se popularizou ao redor do mundo. A história da menina que parte com o Leão Covarde, o Homem de Lata e o Espantalho em busca do mágico de uma terra misteriosa se transformou em um musical de teatro no ano de 1902 e tornou-se um sucesso.

A versão brasileira de O Mágico de Oz veio nas mãos dos produtores Charles Möeller e Claudio Botelho, principais responsáveis pela consolidação do gênero musical no Brasil. Em cartaz em São Paulo desde o dia 21 de fevereiro, o musical é baseado no filme de 1939, estrelado por Judy Garland, e na produção teatral da Royal Shakespeare Company.

A dupla Möeller e Botelho iniciou a sua parceria na produção de musicais em 1997, com o espetáculo A Malvada. Hoje, conta com nomes de peso no currículo como Hair, Um Violinista no Telhado e A Noviça Rebelde, além de produções mais autorais como Beatles num Céu de Diamantes, Judy Garland – O Fim do Arco -Íris e 7 – O musical, que lhes rendeu o Prêmio Shell – uma espécie de prêmio Tony brasileiro – em 2007.

Com Möeller na direção e Botelho responsável pelas versões, ou seja, adaptação das músicas para o português, o cenário dos musicais no Brasil se ampliou e segue conquistando novos admiradores. A eficiência na produção do gênero é visível em O Mágico de Oz, que prova também a excelência da dupla em compreender as peculiaridades do público brasileiro

Com um orçamento de 9 milhões de reais, 36 atores, 16 músicos, 14 cenários e muita tecnologia, o musical estreou no Rio de Janeiro em 2012, onde foi visto por 80 mil pessoas. No elenco, o produtor e diretor de espetáculos Luís Carlos Miele interpreta o mágico. Para homenageá-lo foi criada uma música especialmente para o seu personagem, que não canta na montagem original. Já para interpretar Totó, dois cães adestrados – Fergus e Donatella – entram em cena.  

Fica explícito ao longo do espetáculo que o filme de 1939 foi a maior inspiração da dupla na adaptação para a montagem brasileira do musical. Do roteiro às músicas, diversos elementos do clássico estrelado por Judy Garland são trazidos à tona. A mudança nos figurinos do Kansas para os de Oz são um exemplo disso: nas cenas passadas na cidade natal de Dorothy, tons de cinza e marrom fazem parte das roupas do elenco, após o furacão cores vivas e vibrantes como azuis e amarelos se integram à jornada. Esta foi uma forma – inteligentíssima, diga-se de passagem – de representar o que no filme é a passagem das imagens em tons sépia para as coloridas.

A adaptação também possui especificidades que a diferencia de outras montagens feitas ao redor do mundo. A principal delas é o enfoque humorístico dado aos personagens, cujos diálogos trazem diversas referências culturais que criam um clima de maior familiaridade entre o público brasileiro e o universo criado por L. Frank Braum, sem perder a sua essência.

A emoção fica por conta das canções, belissimamente executadas pelo elenco. Destaque para Malu Rodrigues, que se sobressai no desafio de interpretar Dorothy, imortalizada por Judy Garland. Sua versão da garota do Kansas cria um laço de empatia com o público, fazendo assim com que este torça pela protagonista do início ao fim.

Heloísa Perissé está excepcional no papel de Bruxa Má do Oeste. A comicidade na interpretação da malvada a torna o tipo de vilã que o público adora odiar. Também são excelentes as performances de Andre Torquato e Lucio Mauro Filho, nos papéis do Espantalho e do Leão Covarde, respectivamente. Ambos ultrapassam a linha de meros companheiros de viagem de Dorothy, se destacando história.

Mas o espetáculo vai muito além do carisma dos atores. Coreografias bem executadas como a do Besourão, o uso de telas para tornar situações como a do furacão mais verossímeis e até mesmo uma reprise da famosa canção Over the rainbow no segundo ato dão um brilho a mais ao musical.

O Mágico de Oz é uma demonstração de que os musicais estão realmente se consolidando em território brasileiro. As grandes produções estão conquistando o público a cada apresentação e chamando a atenção para este gênero que até não muito tempo atrás era raro no Brasil. Com a qualidade na hora de adaptar boas histórias, é indiscutível que o gênero musical está se aprimorando e com isso, tem tudo para colocar os pés na estrada de tijolos amarelos rumo à Cidade das Esmeraldas.