Dirigido por Paul Mazursky, O Poder da Notícia, de 1998, conseguiu apreender o legítimo know-how do jornalismo das décadas de 1940 e 1950. Os 107 minutos de trama são, contudo, destinados a contar algumas das façanhas de Walter Winchell, espécie de senhor feudal das fofocas, que tinha nas celebridades e políticos seus servos. As 238 palavras despejadas por minuto eram ouvidas por 25 milhões de pessoas nos Estados Unidos, sem contar o montante de leitores que tinham nas colunas do Daily Mirror seu divertimento.
A ordem era desobedecer. Winchell sabia o que o povo queria ouvir e comentar no dia seguinte e, sendo assim, não se deixou levar pelos programas de rádio pseudo-chiques. A linguagem deveria aproximar, ousar e, até mesmo, destruir a gramática. Não é à toa que hoje podemos encontrar na internet uma série de expressões criadas pelo jornalista, sem nenhum rebuscamento e pronunciadas tão rápido quanto o tempo radiofônico.
É impossível medir as verdades e inverdades que foram espalhadas, já que o longa deixa claro que falsos boatos eram bem vindos. Era preciso ir à caça, pois a colheita das difamações tinha lugar: os clubes e reuniões das famílias influentes. A oportunidade era tida como o berço da audiência e levava Winchell ao seu êxtase jornalístico. Com seus “olhos e ouvidos bem abertos”, ele depreendia, nas rodas de conversas, tudo que fosse, de fato, chocante.
Após este estágio, chegava o momento de escrever as notícias. Poucos, porém, sabiam da verdadeira autoria dos textos, feitos por um ghost writer. Herman Klurfeld era quem retocava as colunas e se escondia atrás da fama de Winchell. Tal consideração não deve, contudo, desmerecer os feitos daquele que, sem dúvida, deu ao jornalismo o New York heartbeat – expressão criada por Winchell – de que precisava.
Além do tapete vermelho, estava o jornalista engajado, um dos primeiros na América a expressar o repúdio ao nazismo. Flexível, Winchell conseguiu, já no auge, um programa de televisão, narrando o seriado The Untouchables. Mazursky ainda explora o lado mulherengo do profissional, que tinha casos com algumas artistas. Já a relação com a família – esposa e dois filhos – pelo contrário, teve pouca atenção.
A sequência cronológica que permeia todo o filme termina, como é de se esperar, com a morte do jornalista, em 1972. O enterro conta somente com a filha – Mazursky omitiu que a esposa morreu e o filho tinha se suicidado. A trilha sonora, de Isham Jones, que embala a última cena com o refrão I wanna be in Winchell’s column reflete o mito Winchell, jornalista que deu voz tanto ao dispensável quanto ao que merece ser apreciado, atingindo o povo com seus próprios vernáculos.