INSCRIÇÕES ABERTAS PARA O VESTIBULAR DE VERÃO 2025 Fechar
 

A tirinha que deu origem ao teste.
Crédito: Alison Bechdel

 

Em 1987, a cartunista americana Alison Bechdel produzia uma tirinha chamada Dykes To Watch Out For (numa tradução livre, Sapatonas Com Quem se Preocupar). Foi um dos primeiros quadrinhos a abordar com naturalidade e humor a questão da diversidade sexual: a protagonista é homossexual e feminista, e entre os seus amigos estão um drag queen, uma mãe solteira, uma adolescente transgênero e um professor universitário frustrado com o casamento.

Foi em Dykes do Watch Out For que Bechdel introduziu a ideia de seu hoje famoso teste: uma personagem diz a outra que só assiste filmes que atendam aos seguintes requisitos:
1.Tenham ao menos duas personagens femininas
2.que conversem entre si em alguma cena
3.sobre algo que não seja homens.
Na tirinha, o efeito era humorístico. Mas, quando paramos para pensar sobre o teste de Bechdel seriamente, ele é assustador. Quantos filmes conseguimos lembrar que atendam aos tais requisitos? Se acha a comparação injusta, tente lembrar agora de filmes em que homens conversam entre si sobre algo que não seja mulheres: o número é infinitamente maior.
É importante ressaltar que o teste de Bechdel não é um teste de qualidade. Grandes filmes não passam – Lawrence da Arábia, por exemplo, não tem uma única palavra dita por uma mulher; em Casablanca, Ilsa fala somente com homens; e O Poderoso Chefão quase passa, exceto pelo fato de que na cena em que Connie e Kay conversam, o assunto é Michael. Enquanto isso, filmes como Sex and the City 2 passam com louvor.
Não – o teste de Bechdel é mais fundo que crítica cinematográfica: ele é sobre como a nossa sociedade representa a mulher e sobre como a grande maioria da nossa indústria de entretenimento é feita para – e fala de – homens. Para citar os filmes de grande orçamento do ano passado: Aventuras de Pi, Lincoln, Django Livre e Batman – o Cavaleiro das Trevas Ressurge falham no teste. Os Miseráveis passa raspando (por uma única cena em que Madame Thénardier conversa com Éponine), assim como O Lado Bom da Vida (por uma única cena em que Tiffany conversa com Veronica). A Hora Mais Escura, por outro lado, passa com uma boa margem.
A cultura que consumimos é parte do que forma nossa personalidade, e o teste de Bechdel, longe de dizer respeito a qualidade cinematográfica, diz respeito ao imaginário que estamos formando e a imensa defasagem que ele apresenta em relação aos gêneros. Por que as mulheres não são representadas conversando sobre suas carreiras, seus últimos roubos, suas vitórias, suas questões existenciais?
Se não temos as respostas, temos ao menos o questionamento. Da próxima vez que for ao cinema, note: a vida das mulheres parece girar em torno dos homens?

Em 1987, a cartunista americana Alison Bechdel produzia uma tirinha chamada Dykes To Watch Out For (numa tradução livre, Sapatonas Com Quem se Preocupar). Foi um dos primeiros quadrinhos a abordar com naturalidade e humor a questão da diversidade sexual: a protagonista é homossexual e feminista, e entre os seus amigos estão um drag queen, uma mãe solteira, uma adolescente transgênero e um professor universitário frustrado com o casamento.

Foi em Dykes do Watch Out For que Bechdel introduziu a ideia de seu hoje famoso teste: uma personagem diz a outra que só assiste filmes que atendam aos seguintes requisitos:

1.Tenham ao menos duas personagens femininas

2.que conversem entre si em alguma cena

3.sobre algo que não seja homens.

Na tirinha, o efeito era humorístico. Mas, quando paramos para pensar sobre o teste de Bechdel seriamente, ele é assustador. Quantos filmes conseguimos lembrar que atendam aos tais requisitos? Se acha a comparação injusta, tente lembrar agora de filmes em que homens conversam entre si sobre algo que não seja mulheres: o número é infinitamente maior.

É importante ressaltar que o teste de Bechdel não é um teste de qualidade. Grandes filmes não passam – Lawrence da Arábia, por exemplo, não tem uma única palavra dita por uma mulher; em Casablanca, Ilsa fala somente com homens; e O Poderoso Chefão quase passa, exceto pelo fato de que na cena em que Connie e Kay conversam, o assunto é Michael. Enquanto isso, filmes como Sex and the City 2 passam com louvor.

Não – o teste de Bechdel é mais fundo que crítica cinematográfica: ele é sobre como a nossa sociedade representa a mulher e sobre como a grande maioria da nossa indústria de entretenimento é feita para – e fala de – homens. Para citar os filmes de grande orçamento do ano passado: Aventuras de Pi, Lincoln, Django Livre e Batman – o Cavaleiro das Trevas Ressurge falham no teste. Os Miseráveis passa raspando (por uma única cena em que Madame Thénardier conversa com Éponine), assim como O Lado Bom da Vida (por uma única cena em que Tiffany conversa com Veronica). A Hora Mais Escura, por outro lado, passa com uma boa margem.

A cultura que consumimos é parte do que forma nossa personalidade, e o teste de Bechdel, longe de dizer respeito a qualidade cinematográfica, diz respeito ao imaginário que estamos formando e a imensa defasagem que ele apresenta em relação aos gêneros. Por que as mulheres não são representadas conversando sobre suas carreiras, seus últimos roubos, suas vitórias, suas questões existenciais?

Se não temos as respostas, temos ao menos o questionamento. Da próxima vez que for ao cinema, note: a vida das mulheres parece girar em torno dos homens?