Darwinismo Social é o tema de Mortal Engines, do escritor Phillip Reeve. Inglês, Reeve foi ilustrador de livros infantis até que escreveu a saga Hungry City Chronicloes (Crônicas das Cidades Famintas), onde ele visualiza um futuro devastado por uma guerra nuclear, na qual as cidades possuem esteiras e se locomovem por aí comendo umas as outras.
Cidades mais fortes comem as cidades mais fracas e é assim que o mundo funciona. Mas não para Tom e Hester, o casal introduzido no primeiro volume da série de quatro livros, Mortal Engines. Depois dos eventos que levam ao final do primeiro romance, Tom e Hester agora navegam com um dirigível roubado pelos ares das terras devastadas imaginadas por Reeve em O Ouro do Predador.
Retomando os personagens principais do primeiro livro, Tom e Hester chegam a uma cidade tracionada chamada Anchorage. Lá eles conhecem a bela e petulante Freya, por quem Tom tem uma paixonite que coloca em curso um desenrolar movimentado e violento que envolve piratas aéreos, um jovem ladrão e um caçador já conhecido.
Há um problema complicado em O Ouro do Caçador, o segundo e pouco impactante livro da série: o tamanho. Com pouco menos de 290 páginas na versão brasileira, o livro tem pouco tempo para desenrolar uma série de acontecimentos que precisam ser propriamente explorados. O que ele não faz.
Reeve mantém as mesmas características que fizeram o primeiro romance ser tão bom. Ação constante, leitura leve, personagens cativantes e violência, muita violência. O que há de calmo e monótono na primeira metade há de tempestuoso na segunda. Mas essa é uma divisão pouco equilibrada, pois mais da metade do romance se restringe a articular o triângulo amoroso e as pequenas subtramas que terão de ser apressadas até o final numa conclusão pouco satisfatória.
Algo da crítica social embutida em Mortal Engines se perdeu em O Ouro do Predador também. Neste segundo volume, o leitor já está mais acostumado com o fato de que cidades comem cidades e seus habitantes são mortos ou capturados e transformados em escravos. Nossa sociedade contemporânea não é menos canibal, fato, mas essa sátira – travestida e exagerada no primeiro livro – perdeu um pouco de sua força inicial, por inércia.
Ainda há muito para acontecer, já que mais dois livros foram lançados. O terceiro, Máquinas Infernais, já está disponível e traduzido no Brasil. Até onde se pode prever, existem duas possibilidades evidentes para Reeve com sua saga: a primeira, ele pode cair no abismo para o qual sua sociedade caminha fervorosamente. Ou pode encontrar a terra verde e prometida tão ansiada e merecida por seus personagens. Resta torcer para que seja a segunda opção.