Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a Faculdade Cásper Líbero realizou nesta semana o ciclo de cinema Mulher e Mídia. Longe de todos os estereótipos de celebração desta data, que incluem flores e chocolate, a faculdade preferiu abordar uma questão mais profunda: direitos e imagem.
Miss Representation foi exibido na segunda feira. O título é um trocadilho entre uma “Miss Representação” (como em “Miss Brasil”) e uma má representação (misrepresentation, em inglês). Este documentário, de 2011, explora como a representação da Mulher na mídia gera um número menor de mulheres em posições de liderança e poder. Palestrando estavam Ticiane Natace, do Diretório Central dos Estudantes da USP e Anna Gabriela Coelho, estudante de jornalismo da PUC-SP. Ticiane comentou, por exemplo, como muitas mulheres acham que a bandeira do feminismo esta ultrapassada e acabam reproduzindo o machismo, principalmente quando não se sentem diretamente atingidas com propagandas de cerveja que apresentam suas tradicionais mulheres louras, seminuas e de seios fartos.
Na terça foi exibido Cores e Botas, um curta de 16 minutos sobre Joana, uma garotinha negra que sonha ser paquita da Xuxa, nos anos 80. O sonho era comum na época, mas nunca tinha se visto uma paquita negra. As palestrantes incluíram Luka Franca, jornalista e ex-presidente da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicaçao Social, e Cinthia Melo, jornalista formada na Cásper Líbero e militante do movimento negro. O debate se deu principalmente em torno da desigualdade racial, mas não em termos de capital e sim em termos de imaginário: os padrões de beleza incluem cabelos lisos, nariz fino, pele clara.
O Aborto dos Outros foi o filme de quarta feira, acompanhando vários procedimentos legais ou ilegais e expondo os efeitos cruéis da lei brasileira. Neste dia, a procura foi tão grande que o evento teve de ser movido do auditório Aloysio Biondi para o Teatro Cásper Líbero, que tem mais que o dobro de lugares. O debate contou com a participação da artista plástica e filósofa Márcia Tiburi e Eliana Atihé, doutora em educação.
Foi o mais polêmico dos debates: “Tanto plateia quanto mesa divergiram em muitos aspectos, como a questão religiosa. De um lado, estava a Márcia Tiburi, super feminista; de outro, a Eliana Atihé, que falou sobre mitologia pra explicar a sociedade patriarcal. Zeus, por exemplo, tinha um monte de amantes. Apesar de elas concordarem em alguns aspectos, a Márcia colocou mais a questão da sociedade contemporânea, super machista e opressora.” Conta Priscila Kesselring, do Centro Acadêmico da Cásper Líbero, que fez parte da organização e acompanhou o evento.
Por fim, O Segredo dos Lírios recolhe os depoimentos de três mães a respeito de suas filhas homossexuais. “É um documentário muito bonito, mas acaba passando uma mensagem positiva de mais, de que as mães aceitam as filhas homossexuais. E a gente sabe que não é bem assim em muitas famílias. Falamos de homofobia, estereótipos em relação à homossexualidade, e a tendência que existe hoje de rotular as pessoas.” Resumiu Kesselring.
Francisco Nunes, professor de Filosofia da casa e idealizador do evento, considerou este ciclo de cinema e mesa redonda um sucesso: “Foi uma surpresa muito positiva na Cásper. Entre outros motivos, porque os debates foram esclarecedores. Conseguimos escapar da ‘polêmica pela polêmica’. Isto aconteceu porque as pessoas convidadas para os debates participam de movimentos sociais, têm compromisso com as mudanças na sociedade e uma boa formação teórica. O auditório e o teatro ficaram cheios durante os quatro dias.”