Regiani Ritter, hoje atuando na Rádio Gazeta, foi a primeira jornalista mulher brasileira a cobrir uma Copa do Mundo, em 1994, nos Estados Unidos, e uma das pioneiras em editoria de esportes, área comandada até hoje majoritariamente por homens. Em uma palestra aos alunos da pós-graduação em Jornalismo Esportivo da Cásper, na disciplina ministrada pelo professor Erick Castelhero, editor executivo do Gazeta Esportiva, a jornalista compartilhou as experiências mais marcantes na profissão, relembrando suas memoráveis entrevistas nos vestiários dos estádios, como a única mulher in loco, à época, a cobrir as partidas de futebol.

Mas quem pensa que a carreira de Regiani começou no jornalismo, se engana. Nascida no interior do estado de São Paulo, aos 11 anos matriculou-se na Escola São Paulo, em um curso de teatro. Em 1963, conseguiu um emprego na TV Tupi e, após quatro anos, migrou para a TV Cultura, como garota propaganda. A jornalista e atriz relatou que, desde os tempos de teatro e dos testes para atuação, sentia o machismo. Durante sua palestra, ela contou que vivenciou situações bem constrangedoras, mas não desistiu. Em 1980, iniciou sua trajetória na Rádio Gazeta, ao apresentar um programa com foco em variedades e conteúdos musicais. Porém, em uma determinada ocasião, foi escalada para cobrir folgas e férias de setoristas do programa Mesa Redonda, começando assim seu caminho no esporte.

Sua afinidade com o futebol começou antes de imergir no jornalismo. Quando criança, gostava de ir aos estádios e assistir às partidas de futebol com a família. Conseguiu tal proeza depois de indagar ao pai por que nunca era convidada para o passeio, diferentemente de seus irmãos, que sempre eram privilegiados. Ela se encantou com o futebol na primeira experiência como torcedora.

Naquela época, era impossível pensar que uma mulher pudesse ser comentarista ou apresentadora de algum tema esportivo na mídia. A resposta positiva aos convites para cobrir as folgas dos jornalistas esportivos na Rádio Gazeta foi vista como “uma forma de desafio”, disse durante a palestra aos alunos da Cásper Líbero. Após esse período, Regiani transferiu-se definitivamente para a editoria esportiva da Gazeta, tornando-se uma das jornalistas pioneiras no universo da cobertura esportiva.

Em suas entrevistas, os episódios ocorridos nos vestiários dos clubes de futebol vêm sempre à tona. A jornalista entrevistou muitos jogadores nesse ambiente proibido às mulheres, competindo com os colegas repórteres. O primeiro deles foi o Casagrande, em 1985. Mantendo toda classe e profissionalismo, a jornalista entrava nos vestiários após os jogos para entrevistar e obter declarações dos atletas presentes nas partidas, ressaltando ser a única figura feminina no local. “Não existia tédio, era um desafio constante, eu sou mulher, não posso errar!”, disse durante a palestra.

Regiani lembra como era importante ir além da pressão sofrida, uma vez que, por ser mulher, caso cometesse algum erro, o julgamento era muito mais rigoroso. “Por ser mulher, e querer ganhar um espaço que eu merecia, tive que usar muito a cabeça”, conta.

Mas nem mesmo o preconceito a impediu de chegar ao lugar que pretendia. Foi à Copa do Mundo, em 1994, como a primeira mulher brasileira a acompanhar a competição como jornalista. Hoje, de volta à Rádio Gazeta, continua a inspirar novas gerações de mulheres na profissão. O caminho aberto por Regiane Ritter fez toda a diferença.