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Edição nº 7 – 2018

Chafariz da Mesquita Azul; Crédito: Ricardo Medauar OmmatiPor entre construções antigas, ruas estreitas de pedra, mar azul turquesa e muita, muita gente cruzando caminhos, eis que acorda Istambul. Já frenética, dinâmica. Semblantes sérios, sisudos, alegres, taciturnos. Negros, brancos, mouros, árabes, europeus, asiáticos – jovens e velhos, almas de todas as idades. Istambul é fervor.

Apesar da atmosfera aparentemente caótica de carros, motocicletas, “tuc tuc” e de milhares de pessoas seguindo seus trajetos (cerca de 15 milhões de habitantes) – ainda assim, Istambul exala paz. Aqui e ali hinos soam trechos do Corão – que, para os turistas despercebidos, parecem verdadeiros mantras a apaziguarem alma e coração. Misticismo? – Fé.

Desde as primeiras frestas de sol, filas de turistas brigam por espaço para visitarem verdadeiro colosso religioso, um dos principais cartões postais da Turquia: a Mesquita Azul. Situada em Sultanameh (“Cidade Antiga”), a mesquita recebe nome de “azul” não por acaso, já que possui vitrais em todas as paredes refletindo os raios de sol que criam a sutil coloração celeste que a batizam, merecidamente, de “Blue Mosque”. Azul por reflexo mas multicolor por enigma, dentro dela o chão é coberto de tapetes persas e, no topo, candelabros iluminam o espaço que se destina a prece, meditação e refúgio espiritual. Homens e mulheres não podem entrar com shorts ou camisetas cavadas, devendo se cobrir com uma espécie de saia oferecida gratuitamente pelos seguranças, no lado externo e, para mulheres, também é preciso usar túnicas sobre os cabelos; retirar os sapatos e respeitar o espaço próprio para oração.

Ainda em Sultanameh, nas redondezas da Mesquita Azul, outro ponto atraente: a Basílica Santa Sofia (com sua famosa cisterna). Santa Sofia, na verdade, foi construída pelo Imperador Justiniano I, sendo considerada o principal prédio histórico de Istambul, da época em que Constantinopla era a capital do Império Bizantino, por volta do ano 500 d.C.. Tamanha sua importância para os turcos, que foi aclamada como “Hagia Sophia” (Sagrada Sabedoria), cujo interior, coberto de mosaicos de ouro, sintetiza a riqueza do Império Bizantino. No entanto, para os turistas “apressados” que não quiserem aguardar mais de duas horas para visitação (porque as filas para entrar são imensas), vale a pena conhecer apenas a sua cisterna – esta, um impressionante subterrâneo com capacidade para 30 milhões de litros de água, destinados a salvar a cidade caso tivesse seus aquedutos destruídos em guerras. A cisterna ostenta impressionantes colunas em seu interior (cerca de 336) – algumas inclusive simbólicas, com cabeças de Medusa.

Chafariz da Mesquita Azul; Crédito: Ricardo Medauar Ommati

Outro capítulo à parte, em Istambul, é a visita aos “haman” – locais onde, desde a Antiguidade, aconteciam os tradicionais banhos turcos. Sem qualquer conotação erótica, nos “haman” os visitantes recebem uma toalha e a chave de uma cabine privativa onde permanecem apenas com trajes íntimos. Cobertos por uma toalha, o ritual começa com um banho normal (em chuveiro), depois massagem de sabonete com relaxamento em sauna coletiva e, para os que desejarem, massagem com óleo, em cabine própria. Os custos variam de acordo com o “haman” escolhido – o Haman Carmelitas e o Haman Four Seasons são os mais recomendados principalmente por conta do asseio. Aquele, mais acessível e não menos procurado e este, o mais requintado, atualmente administrado pela rede de hotéis Four Seasons, cujo prédio suntuoso, nas redondezas da Mesquita Azul, abrigava um verdadeiro “haman” de sultões, na época da Antiguidade.

Passado, presente e futuro se misturam na atmosfera de Istambul, mostrando que a tradição convive com a modernidade em verdadeira profusão étnica e cultural. Istambul é atemporal. Construções antigas abrigam cafés repletos de jovens; galerias antigas funcionam como mercados de verduras, especiarias e roupas – a exemplo do Bazar Egípcio, que vende souvenires artesanais; do Bazar das Especiarias, que vende o famoso açafrão egípcio, além de tâmara, damasco e tantas outras iguarias; e, mesmo, do Grande Bazar, o maior mercado de Istambul, com estandes de roupas, ouro, artesanato e restaurantes.

Istambul se finca tanto na Europa como na Ásia. Uma ótima opção para conhecer os dois continentes ao mesmo tempo é passear de barco pelo Rio Bósforo, até o Mar Negro. O passeio custa, em média, 40 dólares e, nele, percorre-se todo o rio, com vistas interessantes – de um lado, a Istambul europeia e, do outro, a Istambul asiática (apesar de ambas conservam os mesmos traços). O passeio finaliza no Mar Negro (que, de “negro”, tem apenas o nome, já que sua coloração azul, inclusive, oferece um pôr do sol cinematográfico). A conotação existe porque nas suas camadas mais profundas, não há oxigênio suficiente para a proliferação de vida animal e vegetal, existindo peixes e plantas somente em suas camadas mais rasas; também porque, em decorrência da falta de oxigênio nas suas profundezas, vários resquícios antigos (desde embarcações afundadas a ossadas humanas) permanecem intactos.

Olhos ainda atentos para as margens do Rio Bósforo: eis o Palácio Dolmabahçe. Suntuoso, com 285 quartos e cerca de 43 salas, o palácio abrigou a dinastia do Sultão Abdulmecit e chama atenção por seu tamanho e capricho arquitetônico: mais de 500 metros de extensão horizontal às margens do Rio Bósforo, em detalhes que misturam traços ocidentais com orientais. Riqueza e opulência se traduzem em muito alabastro, tapetes de seda e de lã, um lustre de cristal com 36 metros de altura e, como não poderia faltar, um majestoso harém – verdadeira relíquia da história.

Sim, os sultões tinham haréns, alguns deles, com mais de 700 mulheres “hierarquizadas” de acordo com a quantidade de filhos – e, claro, com o grau de “interação” que travavam com o sultão. As mulheres do harém eram vigiadas por ninguém menos que a sogra (a mãe do sultão). Para ascenderem de categoria, chegavam até mesmo a envenenar umas às outras – e não mediam esforços para seduzirem o sultão e, com isso, subirem de posto.

Istambul resplandece história e cultura em cada esquina, mas, também, não deixa de refletir traços fortes do capitalismo. Shopping centers, lojas internacionais, franquias de luxo e grandes marcas do mundo “fashion” disputam espaço na famosa Rua Nisantasi, região mais chique da cidade: Louis Vuitton, Prada, Hermés, Chanel, Godiva, Armani, todas com lojas meticulosamente decoradas lado a lado. Entre um conglomerado e outro, restaurantes com mesas nas calçadas (destaque para o Kirinti, que serve comidas típicas) e bistrôs no melhor estilo europeu são boas pedidas para ver e ser visto – como bem exige o “creme de la creme” da sociedade.

A viagem continua – agora, em bares e casas noturnas, no ponto mais “cool” de Istambul, onde a noite vira dia num piscar de olhos: a Rua Istikal, nas redondezas da Praça Taksim. Baladas, bares e diversão sem limites – onde a juventude se espalha fumando narguilé e tomando “drinks” (com exceção dos muçulmanos que, pela religião, não bebem álcool). A melhor pedida é se perder por todas as ruelas, donde cada beco revela um novo caminho. Até as quatro da manhã, as mesas dos bares continuam repletas. E, como num verdadeiro labirinto de felicidade, o dia vai raiando com a certeza de que valeu a pena visitar uma das cidades mais inusitadas da História.