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Edição nº 6 – 2016

Mariazinha tem nome de contos de fada. Não fosse o fato de não morar em uma casa feita de doces, mas em uma favela carioca; também não fosse o fato de sua presença se dar de maneira quase verdadeira por meio das palavras de João Antonio, tão verossímeis quanto uma reportagem de jornal – fato que talvez explique por que o autor tenha optado por escrever o conto em terceira pessoa. Mariazinha é presença real, como aquela nossa vizinha da casa ao lado.

Marginalizada, Mariazinha não é posta sob a ótica do coitadismo ou à luz do vitimismo, apesar de sua condição de prostituta e ladra. Somos levados por sua ginga, por sua fala; assim se faz Maria, que nos mostra que as maravilhas do Rio não são tão maravilhosas, que as garotas de Ipanema são resultado dos diversos contrastes sociais das grandes cidades, tal qual Rio de Janeiro e São Paulo. É preciso, antes de tudo, sobreviver; e sobreviver, às vezes, nos exige submeter.

Ao dar voz a uma personagem que está à margem da alta sociedade, João Antonio abre espaço à massa discriminada, aquela que está nos ônibus, nos trens, no cotidiano, mas que insiste em ser esquecida. Assim como Graciliano Ramos faz em Vidas Secas e João Cabral de Melo Neto, em Morte e vida Severina, em “Mariazinha tiro a esmo” o submundo é trazido à tona, com todo o seu sofrimento e sua verdade nua e crua: Mariazinha é apenas um dos muitos jovens abandonados por famílias e governos, mais um número na lista dos esquecidos.

Em contos como este, de João Antonio, a literatura deixa de ser um lugar de construção da ficção e torna-se um espaço no qual coabitam o real e aquilo que achamos ser real, o qual leva a uma indagação: a literatura é pura ficção? Com bem podemos observar, a divisão entre real e não real é perene, uma questão muito abstrata.