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Edição Especial – Junho de 2016

 

Heder Braga Fernandes, paraense da cidade de Marabá, tinha apenas 22 anos quando abandonou o serviço público, no norte do país, para realizar seu grande sonho: o de ser ator. Aos 18, foi convidado pelo tio, também prefeito da pequena cidade de São Domingos do Araguaia, para assumir a tesouraria durante a sua gestão e, enquanto cursava licenciatura em Matemática, pela Universidade Federal do Pará, foi aprovado como fiscal tributário, trocando as equações pelo curso de Administração. Formado e bem remunerado, o jovem nortista deixou a pacífica cidade, com jeito de interior, para estudar teatro na escola O Tablado, fundada pela atriz e escritora Maria Clara Machado, em 1951, na cidade do Rio de Janeiro. “Mesmo aos 22, entendi que era hora de arriscar e viver o meu sonho. E foi o que fiz”. Hoje, aos 29 anos, é mestre em Estudos de Teatro, pela Universidade do Porto, e não se arrepende de suas escolhas. “Não seria justo não tentar. No teatro aprendi atuar, dirigir, produzir. Mudou minha forma de pensar, de viver e me ver como pessoa”, e brinca: “Antes servia café aos colegas da repartição, hoje sirvo Coca geladinha à Bibi Ferreira”.

Com Eduardo Aparecido dos Santos não foi diferente. Após um assalto, o fotógrafo, de 33 anos, teve um prejuízo de seis mil reais em equipamentos. Em vez de repô-los, trocou as lentes por aquilo que sabia fazer de melhor: cozinhar. Cansado da agitação noturna e da concorrência amadora, Eduardo investiu em sua distribuidora de alimentos naturais, fornecendo para lojistas, academias e pessoas físicas, além de sua tradicional barraca de yakisoba, situada no Parque São Rafael, bairro da zona leste de São Paulo. “Pessoas de outras regiões veem provar minha especialidade, e isso não tem preço”.

Thaís Nicácio, formada em Administração pela PUC São Paulo, teve o mesmo destino. A jovem paulistana deixou, em 2014, o Grupo Itaú Unibanco onde, por sete anos, atuou como consultora de investimentos. O receio de não tentar fez com que Thaís abrisse mão de sua estabilidade financeira para tornar-se atriz, dos palcos e do picadeiro. “Quanto mais o tempo passava, mais me sentia frustrada”. Hoje, aos 28 anos, especializou-se em dança e consciência corporal, é integrante de duas companhias teatrais, Opus e Black Red, e não pensa em retornar ao mercado financeiro. “Sou mais feliz no teatro e no circo”, e diverte-se: “Meus amigos acham graça quando atendem meu telefone e é o palhaço Gelatina”.

Outro exemplo de sucesso é o de Eliane Cesar. Formada em fonoaudiologia, a sul-caetanense sempre sonhou em abrir sua própria cafeteria, mas só em 2011, quando diagnosticada com câncer de mama, “abriu os olhos para a felicidade”. Apaixonada por chocolates, Eliane diz-se agradecida por tudo que conquistou como fonoaudióloga, inclusive os cursos que a transformaram em especialista em seu doce preferido: o brownie. “Faço questão de usar ingredientes nobres, sem conservantes e sem corantes artificiais”, e orgulha-se: “Preparo tudo com muito carinho, do sabor à embalagem, pois é assim que gosto de ser tratada”. Financeiramente, a empresária, de 44 anos, não tem do que se queixar, mas entende que o país passa por um momento de insegurança. Mesmo assim, “tornar mais doce a vida das pessoas”, como sutilmente costuma dizer, é sua maior recompensa.

Segundo as companhias Serasa Experian e Unitfour, líderes em serviços de informações, o número de empresas criadas em janeiro de 2016 é 17% maior do que no mesmo mês do ano anterior. São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro ocupam os três primeiros lugares, somando mais de 84 mil entidades abertas. Já o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), informa que o Brasil, em 2015, tinha nove milhões de microempresas, gerando 52% de empregos com carteira assinada, responsáveis pela fatia de 27% do PIB nacional. Mas revela que 82% dos empreendimentos encerram suas atividades nos primeiros cinco anos de vida por falta de planejamento, experiência ou capital.

Para a psicanalista Eunice Palomino, especializada em gestão de pessoas, é comum, principalmente por influência da família, um indivíduo priorizar apenas ganhos financeiros, mesmo quando a atividade exercida vai de encontro aos interesses pessoais. Com o passar do tempo, a escolha torna-se sufocante e faz o profissional repensar tanto seu presente, como seu futuro. “Recentemente, a prática de mudanças radicais tornou-se bastante usual e, se bem planejada, pode trazer equilíbrio pessoal e profissional”.

Segundo Eunice, o estresse, a ansiedade e a falta de planejamento podem levar pessoas a cometerem ações impulsivas que, além de resultados desastrosos, afetam também a saúde mental.