O que a liberdade de imprensa tem a ver com democracia? Em tempos de crise política, fake news e acusações contra jornalistas, essa é uma das inúmeras questões que nos vêm em mente. Como comunicadores, parece necessário pensar o nosso papel em meio ao atual cenário político e o como fazer jornalismo a partir de agora.
Foi trazendo essa discussão que a Profa. Dra. Ana Carolina Rocha Pessôa Temer saiu da Universidade Federal de Goiás para visitar a Cásper no dia 11 de abril. Com o título “Liberdade de imprensa e democracia no país da Lava Jato”, a Aula Magna do Programa de Pós-Graduação foi do início da imprensa à atualidade, passando por várias questões éticas.
Batemos um papo com Ana Temer para entender um pouco mais sobre o assunto.
Na cobertura da Lava Jato, na pressa pelo furo, a imprensa esqueceu de ser crítica?
O modelo de imprensa vive uma armadilha. Há uma ilusão de que os problemas vão acabar se resolvermos a corrupção. Não podemos ignorá-la, mas não pode ser vista como o único assunto importante. O ponto é que temos problemas maiores, e um deles os jovens conhecem muito bem: nós paramos de crescer. Não temos mais trabalhos. Se a população crescer 5% e crescermos economicamente 1,5% significa que tem uma grande falta de emprego e esses jovens estão fora do mercado. Isso gera miséria, angústia e violência. É muito importante a imprensa não esquecer disso. Não dá para colocar todo peso na Lava Jato, na Reforma da Previdência, temos que retomar outros pontos importantes.
Acredita que a Lava Jato se mantém em foco?
Tudo tem um ritmo. Por mais que sejam os corruptos, eles vão acabar. Pode levar 20 anos, mas um dia acaba. Então os grandes escândalos vão diminuir em algum momento. Somos pródigos em escândalos e ainda tem muito para mostrar, mas está diminuindo a força.
O jornalismo brasileiro se relaciona com a realidade do país?
Cada país tem o jornalismo que merece. Infelizmente temos merecido muito pouco. Temos um sistema de educação que não consegue levar o aluno a pensar no que lê. O jovem chega no segundo grau sem capacidade crítica, não a desenvolve na faculdade e a gente ainda quer que ele leia a notícia e julgue além da manchete. Não adianta fazer a melhor reportagem do mundo se não tiver alguém disposto a ler. O jornalismo tem um papel: puxar e trazer avanços. Mas não pode desgrudar da sociedade, tem que caminhar com os muitos defeitos que esse público tem. Ou mudamos a sociedade ou o jornalismo vai continuar ruim. O jornalismo tem que ser a locomotiva, tem que puxar, mas não pode deixar o trem para trás.
O jornalismo está morto?
Não. Sempre ouvimos história de que o jornalismo impresso morreu com a televisão, o rádio morreu com a televisão… vamos passando de versões em versões. Democracia sem jornalismo não existe, mas a forma como ele é feito vai ter que mudar. Talvez o factual precise ser balanceado com mais reflexão, os grandes comentaristas devem ser mais citados nominalmente. Acredito que a própria mídia da internet terá uma credibilidade muito centrada em pessoas e deve haver uma migração das grandes empresas para os grandes nomes.
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