Autor: José Augusto Mendes Lobato |
Tipo de produção: Produção científica |
Classificação: Dissertação/Tese |
Data: 04/04/2012 |
Resumo
A intenção deste texto é propor a utilização do potencial enunciativo das narrativas televisivas de ficção a favor da compreensão da alteridade. Por vezes associada no senso comum ao entretenimento descompromissado, a telenovela brasileira há muito passou a ser reconhecida como um relevante espaço de difusão de identidades, tradições e elementos socioculturais não apenas de seu local de origem como, também, de distintas comunidades simbólicas, nações e povos que são objeto de representação. A partir de uma questão inicial – a ficção é capaz de nos possibilitar uma experiência enriquecedora de contato com o mundo? –, parte-se à análise do gênero telenovela, bem como ao levantamento dos estudos a respeito do lazer midiático, do discurso informativo e de gêneros como o infotenimento – que, ao apontar elementos lúdicos no discurso jornalístico, servirá para que, no rumo inverso, seja sinalizada no texto a possibilidade de as narrativas de ficção atuarem como fontes de conhecimento a respeito do outro. Em seguida, são observadas dez cenas de duas telenovelas da Rede Globo: “Caminho das Índias” (2009), de Glória Perez, e “Duas Caras” (2007), de Aguinaldo Silva. A partir delas, trabalha-se o raciocínio de que o termo “exótico” pode contemplar ao menos duas categorias de alteridade: uma associada à distância espacial e outra, menos evidente, ligada às diferenças culturais existentes dentro dos próprios discursos identitários de uma comunidade (contra-narrativas). As diversas formas de contato e compreensão do outro são colocadas em foco ao longo da análise das sequências em questão, no intuito de verificar as problemáticas concernentes à coexistência das dimensões lúdica e informativa nos produtos de ficção. Para o desenvolvimento deste raciocínio, recorreremos a autores de correntes de pensamento distintas como Fábia Dejavite, Stuart Hall, Homi Bhabha, Iuri Lotman, Vilém Flusser, Walter Benjamin, Nestor García Canclini, Josep María Català, Guy Debord, Muniz Sodré e Kathryn Woodward. Com base nas análises expostas, a percepção é a de que, ainda que reconhecíveis em diversas obras e cenas da ficção seriada brasileira, o conhecimento e a informação cultural ainda figuram de forma desigual e pouco equilibrada nas narrativas midiáticas de alteridade.
Palavras-chave: Narrativas de ficção. Telenovela. Entretenimento. Identidade. Alteridade.