Já ficou claro que sem informações claras e confiáveis qualquer tentativa de combater a pandemia do novo coronavírus tende a fracassar. E quando fontes oficiais não conseguem nem mesmo dialogar entre si? É nessas horas que se percebe como um robusto sistema de dados no País evitaria o desencontro de informações em diferentes esferas, mas não é o que ocorre agora. “A Secretaria de Saúde tem um sistema de organização que não conversa com os dados da educação nem com os da geografia”, explicou o professor Jefferson Mariano, que participou da live promovida pelo Centro Interdisciplinar de Pesquisas (CIP) da Faculdade Cásper Líbero do tempo na terça-feira (3).

Na pandemia, os objetos de pesquisa relacionado à covid-19 estão se pluralizando, o que deve encorajar jornalistas que pretendem se especializar no assunto, afirmou o professor, que também é analista socioeconômico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A comunicação, assim, tem um papel primordial para que a informação correta chegue nas pontas. “Não adianta produzir informações que não vão servir para o exercício pleno da cidadania. A gente conta com os profissionais da área de comunicação para que a informação chegue até nos lugares mais distantes do País”, disse.

No encontro, mediado pela professora Michelle Prazeres, coordenadora do CIP, Jefferson Mariano lembrou do tempo em que não havia portais digitais e canais de comunicação respaldados pela Lei de Acesso à Informação (12.527/2011), que hoje garantem fácil acesso a uma grande quantidade de dados públicos e nos aproxima ao Canadá, país de referência no âmbito de trabalho estatístico. Para os docentes, o nível de transparência que as instituições tem hoje nasceu de um processo longo e gradual de conquistas políticas, que por sua vez são reforçadas pelo exercício da comunicação.

Mas o que fazer quando há um mau uso dos dados? Jefferson, que é mestre em Economia e doutor em Desenvolvimento Econômico, assumiu ser “meio militante dessa área”. Para ele, há uma responsabilidade criada com a informação produzida e um grande perigo em desviá-la de seu contexto original, o que pode gerar sérios impactos. Em casos aparentemente contraditórios, a recomendação é sempre checar e buscar atendentes oficiais ou especialistas, cujos contatos devem estar nos sites de origem dos dados. “Assim, você consegue trabalhar a informação para questionar o produtor”, aconselhou.

As conversas no formato de lives promovidas pela Faculdade Cásper Líbero no Instagram da Revista Esquinas em parceria com o CIP continuam refletindo sobre o  futuro da comunicação pós-pandemia, agora todas segundas e terças, sempre às 18 horas. Na segunda-feira (8/6) o convidado é o professor Fabio Ciquini, que irá falar sobre os impactos das transmissões ao vivo no cotidiano.