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Edição nº 6 – 2016

Dias de inverno na Síria

Com o advento da Primavera Árabe em 2011, adolescentes sírios foram motivados a protestar contra o governo opressor de Bashar al-Assad e no mês de março de 2011 escreveram mensagens revolucionárias no muro de uma escola na cidade de Deraa, sul do país. Consequentemente foram presos e torturados pelas forças de segurança.

O episódio causou revolta. A população local saiu às ruas pedindo mais liberdade no país. Em resposta, as forças de segurança iniciaram ataques armados contra os manifestantes, deixando muitos mortos e feridos. A tensão aumentou e cada vez mais pessoas participavam dos protestos. O presidente revidava reprimindo as divergências. Em julho de 2011 as manifestações ganharam proporções muito maiores. Milhares de pessoas de todo o país foram para as ruas exigir a saída de Bashar al-Assad. A violência do governo também se intensificou. Os conflitos armados entre simpatizantes do governo e os rebeldes foram se transformando na guerra entre a maioria sunita do país e xiitas alauítas, ramificação do islamismo a qual o presidente pertence.

O jornalista brasileiro Klester Cavalcanti, habituado a produzir grandes reportagens e a denunciar a violações dos direitos humanos no Brasil, decide viajar para a Síria com o objetivo de cobrir a guerra civil local. Em maio de 2012, após conseguir o visto sírio e receber diversas orientações além de uma lista de equipamentos que poderia levar em sua viagem, parte de São Paulo para Beirute, capital do Líbano, e segue para a Síria. Ao chegar em Damasco, capital do país, ele não se apresenta ao Ministério da Informação da Síria, ignorando a exigência feita anteriormente, além de infringir muitas outras restrições e proibições relacionadas a circulação de jornalistas naquele território.

No epicentro do conflito, a cidade de Homs, pega um táxi para encontrar com homem que lutava pelos direitos humanos e que era o seu contato naquele lugar. Durante o trajeto ele foi preso pelas tropas oficiais. Ficou encarcerado por seis dias, foi torturado e viveu sob condição desumana numa cela com mais 20 homens. Durante esse período não recebia nenhuma notícia, frequentemente ouvia barulho de tiros e explosões vindos lá de fora, sem ter noção do que o futuro lhe reservava. O medo e a insegurança se faziam presentes.

Um dos seus companheiros de cárcere falava inglês e isso possibilitou o contato com os outros detentos. Ouviu suas histórias e opiniões a respeito dos conflitos que devastavam o país. Diante do cenário sombrio surge algo bonito: a amizade entre Klester e os detentos Ammar Ali, Adnan al-Saad e Walid Ali.

O livro de 285 páginas é uma narrativa da história real do brasileiro, com um texto envolvente que além de prender a atenção do leitor o insere no país em guerra, e faz um convite para a reflexão sobre questões relacionadas ao poder, a raça, às divergências políticas e religiosas que assolam a humanidade sobretudo naquele país. Algumas páginas são ilustradas com fotografias tiradas por ele, antes de ser preso, e um mapa geográfico dos conflitos.

De volta ao Brasil os dias de inferno de Klester findaram-se, porém, para o povo sírio eles perduram até hoje. A estimativa é de que a guerra, com mais de cinco anos de duração, já tenha matado mais de 400 mil, e que tenha gerado aproximadamente 4,8 milhões de refugiados, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).

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