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Edição nº 2 – Dezembro de 2014

 

Crédito: Juliano Ambrosini

Crédito: Juliano Ambrosini

Quantas vezes por dia você é Silvério, em vez de Silvero ?
Sempre acontece, levo isso de forma divertida porque acredito ser um problema cultural e educacional. Aprendemos na escola sobre Inconfidência Mineira o nome Silvério e isso, creio eu, fica na cabeça das pessoas.

Quais são as memórias de sua infância ligadas à transexualidade?
Quando pequeno três coisas chamaram muito minha atenção. A primeira foi o fato de me apaixonar por uma colega de sala e quando ela descobriu fui humilhado no pátio da escola na frente de todo mundo, chorei muito, daí um amigo me ajudou, sentou ao meu lado e conseguiu me acalmar. Então me apaixonei por ele. Segundo, eu tinha um colega de sala que era muito afeminado e todos o discriminavam, como eu tinha medo de me assumir, acabei rejeitando a amizade dele e isso ainda hoje me machuca muito. O terceiro caso foi que na minha infância ouvia muito falar do “Barbozinha”, único travesti da minha cidade (Mombaça- CE), ele era taxado como uma aberração e isso sempre me fascinou e me fazia querer me aproximar e conhece-lo melhor.

Você se lembra de quando se sentiu tocado por uma manifestação artística, atribuindo à experiência algo transformador em sua vida?
Trabalhei numa comunidade na região metropolitana de Fortaleza durante 12 anos numa ONG camada Parque do Tapuio, lá tive a oportunidade de ensinar arte para jovens e adolescentes, foi então que percebi a enorme capacidade de mudança que a arte tem. Ao longo de 12 anos de trabalho vi crianças se tornarem grandes pessoas, tudo isso porque tiveram contato com a arte, coisa que demorei muito para ter.

Como o teatro surgiu para você?
O Teatro me salvou, digo isso sempre que posso. Eu fazia ensino médio no Instituto Federal (na época Escola Técnica Federal do Ceará) e foi nas aulas de teatro que descobri pessoas fundamentais para minha formação humana e profissional.
No espetáculo Br Trans , você relata sua vivência na ala gay do pavilhão do presídio central de Porto Alegre, realizando oficinas de teatro.

Você acha que quem vive no sistema carcerário do Brasil pode cultivar algum sonho?
Depende das oportunidades oferecidas. Minha experiência na ala de travestis e seus companheiros no me fez perceber a importância do trabalho de instituições como a igualdade-RS e somos –RS que lutam em defesa dos direitos LGBTS e do respeito. Assim, tendo essas condições acredito ser totalmente possível realizar, mais do que sonhar.

Algum travesti ou transexual deu continuidade ao trabalho de ator após sua oficina?
Com a minha pesquisa da “Travestilidade como Performatividade do Ator” onde trabalhávamos na oficina jogos de improvisação, criação de personagens, a partir da construção do corpo do trans foi possível quebrar o preconceito de achar que transformismo não é arte, ou que travestir-se pode também ser uma máscara cênica e não apenas uma discussão de gênero e diversidade. Assim, consegui ver algumas meninas que passaram por minhas oficinas se engajarem no teatro, u mesmo hoje estarem num curso superior de Artes Cênicas.

BR Trans vai virar filme. Quando se iniciam as filmagens?
Começamos em novembro no Rio de Janeiro e seguimos, como primeira etapa, para o Cariri cearense. O Filme conta com a direção de Tatiana Issa e Rafhael Alavrez (Dzy Croquetes).
Qual é sua expectativa em relação ao filme? Que o BR–TRANS enquanto filme possa atingir um número maior de espectadores e que consiga com isso quebrar preconceitos, levar mais informação sobre este universo, sobre a violência, a discriminação, falta de oportunidades e a crueldade como uma sociedade cheia de regras pode ser capaz de destruir vidas pelo simples fato de não aceitar o próximo como ele é, não reconhecer sua felicidade. O teatro tem dificuldade de circulação, requer mais custos, creio que o filme poderá divulgar melhor meu trabalho, minha pesquisa e assim mudar um pouco os conceitos de marginalização da travesti.

De quem é o roteiro?
O roteiro parte do próprio texto do espetáculo que escrevi em parceria com a diretora Jezebel De Carli. Entretanto, a adaptação para o cinema ficou na responsabilidade da Issa e do Alvarez.

Qual é o mercado para o ator trans no Brasil?
O de qualquer outro ator. Não entendo porque muitos acham que atores héteros podem fazer travestis e que atores trans não podem fazer qualquer papel. O ofício do ator é se transformar. Assim, não existe mercado diferenciado, pra mim, se é ator, é trans.

Que canção define Silvero?
Shake It Out – Florence and the Machine
Principalmente quando diz: “procurando o paraíso, encontrei um demônio em mim”/ “É bem mais difícil dançar quando o demônio está nas suas costas. Então, livre-se dele”

 

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