“Sou Tati Quebra-Barraco e dispenso apresentação”, o cenário passa longe do estereótipo acadêmico, mas é assim, com os versos do funk proibidão ecoando pela sala, que começa mais uma reunião do Grupo de Pesquisa Comunicação e Sociedade do Espetáculo. O clipe de Tati Quebra-Barraco é a base para a pesquisa de iniciação científica de Silchya Rodrigues e era assunto daquele encontro. “Estava muito nervosa, fiquei com medo do que aquelas pessoas, que têm mestrado e doutorado, iam achar da minha proposta de discussão, mas foram muito abertos e realmente queriam entender o que eu estava dizendo”, conta a aluna da Graduação.
O tema é exemplo do quão amplas são as discussões do Grupo de Pesquisa (GP) coordenado pelo professor do Mestrado Cláudio Coelho. De campanhas eleitorais ao feminismo, passando por teatro, indústria do entretenimento e muita sociedade do espetáculo, as reuniões dos pesquisadores permeiam diversos assuntos e são, sobretudo, um espaço de liberdade e escuta.
O GP é o mais antigo da Cásper, tendo início oficial em 2004. Alguns integrantes vêm desde o começo, como é o caso do dramaturgista do Teatro da Vertigem Antonio Duran e da professora de Relações Públicas Ethel Pereira. “Sinto que o grupo me ajuda a ampliar os horizontes, a entender nossa conjuntura e nosso papel como pesquisadores e seres humanos, por isso continuo nele até hoje”, explica Ethel.
Atualmente, as reuniões são divididas em duas vertentes: política e cultura (que se cruzam em muitos momentos). “Inicialmente, o grupo trabalhava apenas com a temática mais geral: comunicação e sociedade do espetáculo, mas surgiu a necessidade de focos mais claros para as pesquisas e, portanto, a divisão”, explica Cláudio Coelho, coordenador do grupo.
Mas independente de qual vertente será escolhida, as discussões são regra e o respeito é a base delas. E os momentos de tensão? Acabam sempre seguidos de brincadeiras, “porque falar sobre política é falar sobre discordâncias e o dissenso é bem-vindo para quem deseja construir modos de agir e pensar democráticos”, resume Vivyane Garbelini, doutoranda da ECA-USP. “É muito bacana ver a amizade que o pessoal constrói e o respeito que existe ali dentro. Aprendo demais sobre Debord e sobre a vida também”, afirma Raphaella Salomão, pesquisadora de iniciação científica.
E se engana quem pensa que esse espaço de debate é só para grandes pesquisadores. Nas discussões, pessoas da graduação conversam de igual para igual com doutores. “Não existe uma pressão de ter que saber tudo, existe mesmo a construção de um pensamento acadêmico”, diz Silchya Rodrigues, ao que Antonio Duran complementa “sinto que o grupo é um laboratório de experimentação de ideias.” Por isso, as reuniões são interessantes em diversas esferas e não só para quem quer lecionar algum dia, como explica Emerson Ike Coan: “As discussões se projetam para outros setores da existência, como realização profissional e atividade reflexiva para os diálogos nos relacionamentos pessoais e sociais”.
E pra quem acabou de entrar? “O grupo é leve, as pessoas vão com um espírito colaborativo, a interlocução entre os estudos vai ficando evidente. Então pra mim tem sido muito positivo”, compartilha Rodrigo Ratier, professor do curso de Jornalismo.
Para ampliar as discussões, o grupo promove seminários anuais com seus membros e convidados externos e tem uma produção constante, carregando alguns livros nesta trajetória. O mais recente, Política, mídia e espetáculo foi publicado ano passado e está disponível online de forma gratuita.
Ficou curioso? Neste semestre acontece o 5º Seminário de Comunicação, Cultura e Sociedade do Espetáculo aqui na Cásper Líbero entre os dias 16 e 18 de outubro. Mais de 40 pesquisas serão apresentadas com espaço para debate entre público e expositores. Que tal entender um pouco mais do que rola nas reuniões?