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Ennas Barreto, 30, mora em Manaus há dez anos e formou-se em jornalismo no ano passado. Ela contou que queria fazer sua tese de conclusão de curso sobre a história das mulheres no jornalismo esportivo amazonense. Decidida, explicou seu tema ao professor-orientador, que respondeu: “Amazonas não tem nem esporte, vai ter mulher no jornalismo esportivo?”. E de uma classe de 54 alunos, Ennas foi a única a finalizar e defender a tese.

E foi essa jornalista que cruzou 2.700 km aéreos para participar do curso extracurricular de Jornalismo esportivo, ministrado por Celso Unzelte, de 15 a 31 de janeiro na Faculdade Cásper Líbero.

“Quando vejo uma competição, fico com a mão fria. Sou corintiana, mas se o Rio Negro for jogar, consigo sentir a mesma paixão. E gosto de todas as modalidades esportivas, só não consigo me empolgar tanto com automobilismo”, disse Ennas. O fascínio dela por esportes vem da infância: “[Em época de] Copa do Mundo, minha família abria mão de comprar algumas coisas para podermos pintar a casa e comprar bandeirinhas. E meu avô materno, de quem eu era muito próxima, era um grande fã de esportes”.

Formada pela Faculdade Martha Falcão, a jornalista oriunda de São Sebastião do Uatumã, município localizado a quase 300 km de Manaus, lembra que sempre gostou de escrever. “Produzia textos quando pequena, mas era só um sonho: minha família era ribeirinha e meus pais são separados. Minha mãe criou quatro filhos sozinha, vendendo verduras. Aos dez anos eu fazia faxina para comprar meu material escolar. Foi muita audácia fazer jornalismo, mas minha tia sempre me incentivou a ir atrás disso. E consegui”.

Ennas trabalha na assessoria de imprensa do Sindicato dos Trabalhadores em Ensino Superior do Estado do Amazonas há oito anos e, no penúltimo mês de faculdade, uniu suas duas paixões: além da assessoria do Sindicato, agora Ennas também trabalha na assessoria de imprensa do Nacional Futebol Clube. “Gosto muito de esportes, mas mantenho a minha responsabilidade como jornalista: se meu time jogar mal, por exemplo, consigo criticá-lo”.

E ao formar-se jornalista, Ennas deixou um recado para aquele professor-orientador: “Meu livro-reportagem está pronto, portanto não só existe esporte no Amazonas, como existe mulher no jornalismo esportivo e provo isso com a minha obra As Desbravadoras. A trajetória das mulheres no jornalismo esportivo amazonense.

Celso Unzelte e o museu

“Sempre pesquiso tudo sobre jornalismo esportivo e quero fazer pós-graduação nisso, então busco me envolver com tudo que é relacionado. Fiquei sabendo do curso porque costumo acessar o site da Cásper e tinha uma vontade imensa de conhecer a faculdade, que respira comunicação”, comentou Ennas.

“Sou fã do Celso Unzelte; não sei como não chorei quando o vi aqui. Seu livro, Jornalismo esportivo. Relatos de uma paixão é uma bíblia para mim, e ele se baseou bastante nesse livro para dar o curso e, se tiver outro, vou participar”.

Desejando que o curso durasse os quinze dias corridos ao invés de três vezes por semana, Ennas falou sobre como as aulas superaram suas expectativas: “achava que ele daria uma pincelada na história e depois traria mais para a atualidade, mas, não, ele fez o contrário. Como é especialista, conhece o assunto a fundo, conta o que a gente não sabe e junta com a nossa realidade”.

Ennas também disse que, uma das razões para admirar tanto o professor Unzelte, é que ela também adora história. “A maioria das pessoas não conhece a era de ouro do futebol amazonense, que foi a década de 70 e, por isso, dizem que lá não tem futebol. Há dois anos trabalho em um projeto de museu no Amazonas, se as pessoas conhecessem melhor a história, teriam muito mais orgulho de seu Estado. E a partir das aulas, percebi que é possível, sim, montar um museu e o Celso tem sido um grande exemplo, uma inspiração”.

“Imagina depois da Copa”

Além da contextualização histórica e das perspectivas do jornalismo esportivo, o curso de Celso Unzelte também abordou a realização da Copa do Mundo de 2014. A jornalista expressou opinião sobre o evento: “Não vou ser hipócrita e dizer que está tudo perfeito só porque gosto de esportes. De todas as construções e mudanças que disseram que fariam em Manaus, só o estádio e o aeroporto ficaram prontos […] mas agora muito dinheiro já foi investido e o povo deveria ter se manifestado quando o país se candidatou.”.

Ennas também ressaltou que a população manauara tem se preparado para receber estrangeiros. Segundo ela, a rede hoteleira expandiu e os taxistas, por exemplo, querem fazer curso de inglês. “A Copa movimentou a economia e os olhos se voltaram para a capital, gerando emprego e capacitação. Então, imagina depois da Copa”.

Para Ennas, “o mais importante é que o Nacional [Futebol Clube] e o Princesa dos Solimões estão livres para jogar na Arena da Amazônia, isso é um incentivo para que as pessoas conheçam o esporte […] e acredito que ele é capaz de mudar totalmente a vida de uma pessoa. Conheço histórias de gente que deixou as drogas, de ex-presidiários violentos que se disciplinaram. E ter uma Arena no nosso Estado traz identificação, traz amor pelo o que é teu. Está na minha cidade, na minha terra, é meu. E se a saúde e a educação estão do jeito que estão, a culpa não é da Copa, é da corrupção”.