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Edição nº 3 – Junho de 2015

Visitantes diversos na entrada da exposição “Castelo Rá-Tim-Bum” | Crédito: Heloisa Ballarini/ Secom/ PMSP/Fotos Públicas

Visitantes diversos na entrada da exposição “Castelo Rá-Tim-Bum” | Crédito: Heloisa Ballarini/ Secom/ PMSP/Fotos Públicas

Uma cena inusitada e curiosa para quem diariamente transitava pelo Jardim Europa, bairro nobre da zona oeste da capital paulista. Pessoas, de diferentes idades, lugares e classes sociais, de pé ou sentadas, enfileiradas sobre a calçada. Centenas delas. E durante o dia todo. Na primeira vez, não faltaram perguntas. O que todos esperavam? Quem? Onde? Como? Por quê? Mas o episódio se repetiu quase todos os dias por mais sete meses. E para entender, bastava acompanhar a fila com os olhos – e com uma boa caminhada de dois quarteirões. Saindo da rua Alemanha e chegando à avenida Europa, aquelas pessoas caminhavam, a passos lentos, em direção à entrada do MIS, Museu da Imagem e do Som.

Em 16 de julho de 2014, o museu lançou a exposição “Castelo Rá-Tim-Bum”, em homenagem ao aniversário de 20 anos do programa infantil, veiculado na TV Cultura nos anos 1990. A mostra recriou cenários e apresentou objetos e figurinos originais dos personagens. O sucesso foi imediato. Além das filas, o interesse pelo evento provocou sobrecarga e pane no site de venda de ingressos e no sistema telefônico. Por isso, o MIS teve de fazer algumas manobras: estendeu o horário de funcionamento, aumentou o número de ingressos e prorrogou por duas vezes o período da exposição.

Assim, “Castelo Rá-Tim-Bum” conquistou recorde de público entre todas as outras mostras já realizadas no museu, com mais de 410 mil visitantes. O resultado pode ter surpreendido, mas não foi um evento isolado. Há tempos que o MIS vinha trabalhando para mudar o cenário cultural, mostrando ao público que aquele espaço também poderia ser uma opção de lazer. Outro exemplo foi a exposição do astro inglês David Bowie, que reuniu materiais de trabalho do roqueiro, e recebeu 80 mil visitantes de janeiro a abril de 2014.

Entre essas e outras, o museu colheu o que plantou e fechou o ano com um recorde histórico, ao somar 603.197

Saguão do “Castelo Rá-Tim-Bum” recriado dentro do Museu da Imagem e do Som | Crédito: Letícia Godoy/ MIS/ GOVESP/Fotos Públicas

Saguão do “Castelo Rá-Tim-Bum” recriado dentro do Museu da Imagem e do Som | Crédito: Letícia Godoy/ MIS/ GOVESP/Fotos Públicas

visitantes durante o ano todo. E não à toa, apareceu no topo da lista dos dez museus mais visitados da cidade em 2014. O diretor executivo do MIS, André Sturm, diz que recebeu a notícia com “saltos” e muita alegria. “Eu acho que o sucesso se deu pela nossa programação e pelo trabalho da minha equipe, que fez de tudo para que as pessoas tivessem uma experiência única”, afirma.

A lista dos “dez mais” foi elaborada pela empresa de turismo e eventos SPTuris, que desenvolveu uma pesquisa com todas as instituições vinculadas à Secretaria da Cultura do Estado, a fim de analisar o cenário atual. O estudo mostra que houve aumento na visitação, não só no MIS, mas em todos os museus que aparecem no ranking.

A grande movimentação de turistas que vieram a São Paulo durante a Copa do Mundo e um orçamento gordo investido pelas instituições são algumas possíveis explicações para um público além da expectativa, como explica o coordenador da pesquisa, Fabio Montanheiro. “O Museu do Futebol já costuma receber muitos visitantes, pois o tema atrai pessoas do Brasil todo e do mundo, e recebeu ainda mais na Copa. Mas é claro que as megaexposições também acabam atraindo bastante gente, sim, porque são exposições temporárias, inéditas e com temas minuciosamente escolhidos para despertar o interesse nas pessoas.”

Montanheiro também destaca que a divulgação dos museus foi peça-chave para atrair interessados. “Além de uma curadoria antenada em acompanhar as tendências atuais do público, é necessário que haja um bom trabalho de divulgação, ações com os visitantes, e um bom relacionamento com a imprensa. Hoje em dia isso é uma forma de disseminar a cultura”, afirma.

Visitantes fazem selfie em frente à obra de Ron Mueck, na Pinacoteca | Crédito: Robson Fernandjes/Fotos Públicas

Visitantes fazem selfie em frente à obra de Ron Mueck, na Pinacoteca | Crédito: Robson Fernandjes/Fotos Públicas

Pode-se dizer que a divulgação ocorreu também de forma natural, pelos próprios visitantes, que publicavam o passeio nas redes sociais da internet. Um exemplo: a Pinacoteca do Estado de São Paulo exibiu, entre 20 de novembro de 2014 e 22 de fevereiro de 2015, uma mostra com esculturas hiperrealistas do artista australiano Ron Mueck. As obras, que reproduziam figuras de seres humanos em cenas cotidianas com fidelidade máxima, cativaram pela mudança nas dimensões de escala e realismo dos personagens. Essa excentricidade atraiu um público enorme, que mais uma vez formou filas gigantescas para ver a exposição. E não bastava apenas visitar o acervo. Muitos queriam também tirar fotos das obras e, por que não, fazer um “selfie” para postar no Facebook ou no Instagram. Assim, de boca em boca, a galinha encheu o papo. Mais de 400 mil pessoas estiveram na exposição de Ron Mueck. E o curioso: 80% delas nunca tinham visitado um museu antes, de acordo com a Pinacoteca.

Público chegava a ficar mais de cinco horas na fila para ver a exposição de Ron Mueck na Pinacoteca | Crédito: Robson Fernandjes/Fotos Públicas

Público chegava a ficar mais de cinco horas na fila para ver a exposição de Ron Mueck na Pinacoteca | Crédito: Robson Fernandjes/Fotos Públicas

Filas, ingressos esgotados e “selfies”. Demonstrações, que até um tempo atrás eram mais comuns em shows de boy bands, agora ganharam um novo espaço. O professor de História, Sociedade e Cultura da Escola Panamericana de Arte de São Paulo André Cezaretto explica que o aumento na visitação dos museus é uma tendência mundial, e não acontece apenas por causa de megaexposições. “Sem dúvida alguma, exposições grandes como a do Castelo Rá-Tim-Bum atraem o público, pois são interativas e podem divertir. Porém, os museus de acervo também recebem cada vez mais público. O sucesso ocorrido no ano de 2014 faz parte de um processo que vem ocorrendo há mais de uma década. Insisto na questão de que os museus – não só no Brasil, é uma tendência mundial – têm investido cada vez mais em setores de comunicação e educação. Esses espaços se tornaram mais atraentes”, declara.

Entretanto, o professor ainda lembra que, apesar das mudanças, ainda há muito para se trabalhar. “Os dados de 2014 também revelam que há uma desigualdade na frequência de museus. Isso implica pensar que os museus menores têm menos recursos e necessitam batalhar muito mais pela sua sobrevivência.”

O MAC, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, não entrou no ranking dos “dez mais” da SPTuris porque não está ligado à Secretaria da Cultura. No entanto, recebeu 284.312 visitantes em 2014, o dobro em relação ao ano anterior. Para o diretor da instituição, Hugo Segawa, o dado mostra que não só as grandes exposições atraem o público. “É um índice além de qualquer expectativa, porque não somos um museu com muita presença na mídia, nem fazemos propaganda. Acredito que nem todo museu precisa ter como fim último a megaexposição. Um cinéfilo se sentirá muito melhor numa sala de cineclube que num complexo de cinemas dentro de um shopping center, por exemplo. Então, numa cidade de tanta diversidade como São Paulo, é bom que tenhamos museus de muitos perfis e poderíamos ter muito mais”, explica.

Segundo o secretário da cultura do Estado, e também especialista em Museologia, Marcelo Mattos Araujo, existe hoje um fortalecimento do museu como instituição do ponto de vista da capacidade técnica, além do desenvolvimento de programações, que buscam principalmente a diversificação do público. “O que era um perfil tradicional de público de museu aqui no Brasil há 20 anos, mulheres entre 30 e 50 anos com formação superior, hoje em dia está totalmente alterado. Qualquer pessoa pode visitar um museu, o que eu acho extremamente positivo”, diz.

2015
Em meio à crise econômica no Brasil e ao ajuste fiscal, conjunto de políticas que busca equilibrar os gastos do governo federal, a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo sofreu um corte de 14% no orçamento para 2015. Com isso, a Pinacoteca precisou cortar 15% do orçamento e demitiu 29 funcionários. O Museu Afro Brasil, o MIS e o Paço das Artes também demitiram, juntos, mais 43 funcionários. De acordo com a Secretaria, mais cortes ainda podem ocorrer. Por isso, existe o receio de que haja uma diminuição de práticas culturais neste ano.

O secretário afirma que a crise também acaba afetando, principalmente, o bolso da população, que poderá deixar de frequentar os museus da cidade justamente por falta de recursos. “É claro que a nossa grande expectativa é que a gente possa ter um aumento ano a ano, de maneira que esse processo se consolide cada vez mais. Mas, por outro lado, esse cenário de crise econômica afeta todos. Não só os governos, mas também cada um de nós, todos os cidadãos, inclusive na capacidade aquisitiva”, acrescenta.

Dessa forma, o diretor executivo do MIS adianta que não há megaexposições programadas para o museu em 2015. “Não dá para fazer sempre eventos tão grandiosos. Eles demandam recursos financeiros, investimento de criatividade, de energia.” No entanto, Sturm revela que em 2016 a situação já deverá ser diferente. “Nós estamos muito ansiosos, trabalhando no projeto que vai trazer uma exposição bem legal, completa, do Tim Burton. Ela vem, já é certeza. E ao certo vai atrair um público tão grande quanto o da exposição do Castelo Rá-Tim-Bum”, afirma. A mostra deverá expor materiais de grandes sucessos do cineasta norte-americano, como Edward Mãos-de-Tesoura, Beetlejuice, A Fantástica Fábrica de Chocolate, Batman, entre outros. E se assim for, quem passar pelo Jardim Europa em 2016 que aguarde, pois vem mais fila por aí.

Os mais visitadosFonte: Observatório do Turismo (SPTuris)
1. Museu da Imagem e do Som: 603.197
2. Catavento Cultural: 509.177
3. Pinacoteca Luz: 425.575
4. Museu do Futebol: 419.363
5. Museu da Língua Portuguesa: 386.789
6. MASP: 288.883
7. Museu Afro Brasil: 209.097
8. Museu da Casa Brasileira: 150.472
9. Casa das Rosas: 116.487
10. Museu da Imigração: 94.781

 

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