INSCRIÇÕES ABERTAS PARA O VESTIBULAR 2024.2 Fechar
 

Crédito: Divulgação

 

Há um problema em  Máquinas Infernais, a terceira parte da Crônica das Cidades Famintas, escrita por Phillip Reeve. É difícil deduzir se é um problema do mercado editorial de literatura fantástica no exterior, ou se é um problema de planejamento da trama.
Composta por quatro livros, A Crônica das Cidades Famintas narra a história do casal Tom e Hester, que vivem em um mundo devastado por uma guerra nuclear. As cidades desenvolveram “esteiras” e agora se locomovem, engolindo umas às outras. O primeiro livro, Mortal Engines, é uma dura crítica ao darwinismo social e à humanidade consumista e canibal do século XX.
O segundo,  O Ouro do Predador, se passa dois anos depois do primeiro. Trás à tona velhos personagens e apresenta uma grande variedade de outros. O primeiro romance se fecha em um círculo perfeito, encerrando os aspectos da trama. Onde achar um gancho para o segundo, então? Reeve encontrou e usou de um artifício diferente: a narrativa não se fecha no segundo romance.
O terceiro, no entanto, se passa dezessete anos depois do segundo, o que é perigoso. Tom e Hester não são mais protagonistas da história, assumindo um papel secundário. A grande heroina da jornada – tentando revelar o mínimo possível do enredo – é sua filha, Wren.
Curiosa e encrenqueira, a menina se envolve com um grupo de ladrões que estão em busca de um objeto chamado “Livro de Lata”. Ela acaba sendo raptada por esses ladrões, iniciando a busca frenética de Tom e Hester pela filha, o que é  o pontapé inicial da narrativa.
A chamada à aventura é breve, o que é bom, e a história começa alucinante, ganhando ainda mais velocidade conforme prossegue. Os novos personagens são interessantes e há certo cinismo cômico que não estava presente no segundo romance.
No entanto, há uma dificuldade em perceber como o tempo se passou no universo de Tom e Hester e a mudança do foco dos protagonistas não é uma coisa propriamente boa. Difícil saber o que acontece ao certo. É difícil saber se é um problema de planejamento – o que indica que o autor ainda está descobrindo para onde a história está indo (o que é ruim) – ou se há uma incerteza no mercado editorial (cada livro precisa se fechar em si mesmo pois não há garantia de que haverá uma sequência, o que também é ruim).
Podem ser esses dois motivos, ou apenas a maneira como Phillip Reeve conduz a trama. Ousado, talvez. Bom… Nem tanto. É complicado se envolver com tantos novos personagens, ainda mais se eles são protagonistas e há uma sensação de que pontos importantes dos livros anteriores estão sendo esquecidos. Mas, apesar da estranheza de se dar um salto de quase vinte anos na narrativa que acompanhamos desde o primeiro livro, o terceiro romance é definitivamente melhor que o segundo. Mais animado, engraçado e – apesar de menos violento – humano.
Há uma certeza, contudo. Os espaços para um final feliz estão se esgotando. Assim como fica claro no primeiro livro, a humanidade caminha paulatinamente para um destino sombrio. O penhasco se aproxima, e rápido.

Há um problema em Máquinas Infernais, a terceira parte da Crônica das Cidades Famintas, escrita por Phillip Reeve. É difícil deduzir se é um problema do mercado editorial de literatura fantástica no exterior, ou se é um problema de planejamento da trama.

Composta por quatro livros, A Crônica das Cidades Famintas narra a história do casal Tom e Hester, que vivem em um mundo devastado por uma guerra nuclear. As cidades desenvolveram “esteiras” e agora se locomovem, engolindo umas às outras. O primeiro livro, Mortal Engines, é uma dura crítica ao darwinismo social e à humanidade consumista e canibal do século XX.

O segundo, O Ouro do Predador, se passa dois anos depois do primeiro. Trás à tona velhos personagens e apresenta uma grande variedade de outros. O primeiro romance se fecha em um círculo perfeito, encerrando os aspectos da trama. Onde achar um gancho para o segundo, então? Reeve encontrou e usou de um artifício diferente: a narrativa não se fecha no segundo romance.

O terceiro, no entanto, se passa dezessete anos depois do segundo, o que é perigoso. Tom e Hester não são mais protagonistas da história, assumindo um papel secundário. A grande heroina da jornada – tentando revelar o mínimo possível do enredo – é sua filha, Wren.

Curiosa e encrenqueira, a menina se envolve com um grupo de ladrões que estão em busca de um objeto chamado “Livro de Lata”. Ela acaba sendo raptada por esses ladrões, iniciando a busca frenética de Tom e Hester pela filha, o que é  o pontapé inicial da narrativa.

A chamada à aventura é breve, o que é bom, e a história começa alucinante, ganhando ainda mais velocidade conforme prossegue. Os novos personagens são interessantes e há certo cinismo cômico que não estava presente no segundo romance.

No entanto, há uma dificuldade em perceber como o tempo se passou no universo de Tom e Hester e a mudança do foco dos protagonistas não é uma coisa propriamente boa. Difícil saber o que acontece ao certo. É difícil saber se é um problema de planejamento – o que indica que o autor ainda está descobrindo para onde a história está indo (o que é ruim) – ou se há uma incerteza no mercado editorial (cada livro precisa se fechar em si mesmo pois não há garantia de que haverá uma sequência, o que também é ruim).

Podem ser esses dois motivos, ou apenas a maneira como Phillip Reeve conduz a trama. Ousado, talvez. Bom… nem tanto. É complicado se envolver com tantos novos personagens, ainda mais se eles são protagonistas e há uma sensação de que pontos importantes dos livros anteriores estão sendo esquecidos. Mas, apesar da estranheza de se dar um salto de quase vinte anos na narrativa que acompanhamos desde o primeiro livro, o terceiro romance é definitivamente melhor que o segundo. Mais animado, engraçado e – apesar de menos violento – humano.

Há uma certeza, contudo. Os espaços para um final feliz estão se esgotando. Assim como fica claro no primeiro livro, a humanidade caminha paulatinamente para um destino sombrio. O penhasco se aproxima, e rápido.