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Edição nº 2 – Dezembro de 2014

Baccic dá vida ao caricato amante argentino, Aldolpho no musical “A Madrinha Embriagada” | Crédito: Fiesp/Sesi-SP Divulgação

Baccic dá vida ao caricato amante argentino, Aldolpho no musical “A Madrinha Embriagada” | Crédito: Fiesp/Sesi-SP Divulgação

Ele já foi o descolado Rum Tum Tugger na montagem brasileira do musical “Cats”. Viveu o banqueiro Harry Bright em “Mamma Mia!”. Incorporou Aldolpho, um atrapalhado amante argentino, em “A Madrinha Embriagada”, versão de Miguel Falabella para o clássico da Broadway “The Drowsy Chaperone”, e hoje dá vida a Dom Quixote, personagem que rendeu o prêmio de melhor ator, concedido pela APCA. Nada mau para alguém que sonhava em fugir com o circo aos 10 anos.

Pernambucano de Garanhuns e filho do meio de uma família de três irmãos, Baccic é um apaixonado por teatro desde sempre. “Já na época do primário, eu lembro de me sentir muito à vontade no palco durante as apresentações da escola e de ter certeza de que era ali que eu queria estar’”. Em casa, os lençóis, toalhas e praticamente todo o tipo de tecido virava cenário para as peças que ele montava na infância. Às duas irmãs cabia a tarefa de seguir minuciosamente cada instrução. “Ele era o diretor, o produtor e o ator”, relembra a caçula Nonó que, por conta da idade, enfrentou um longo período de testes até ser liberada pelo irmão para “brincar sério” e integrar o elenco das produções.

“Esse universo lúdico sempre me fascinou. Quando eu ia ao circo, ficava contagiado por aquele momento mágico de estar em cena e voltava para casa sonhando em fugir com a trupe”, relembra Baccic. A fuga nunca aconteceu, algo que ele lamenta até hoje. Mas o fascínio causado pela arte nunca o deixaria, mesmo diante das situações mais improváveis. Já na idade adulta, o sonho de ser ator foi interrompido pelas demandas da vida prática. “Sou de uma época em que essa não era uma carreira incentivada pela família. Muito pelo contrário”. Para pagar as contas, ele chegou a ser comissário de bordo, mas a carreira na aviação não conseguiu calar o desejo que o acompanhava há tanto tempo. “Ser ator sempre foi algo latente em mim. Mesmo nessa época, eu fazia o meu show. Seja interagindo com os passageiros nos corredores do avião ou cantando trechos de grandes musicais enquanto pulava de uma cama para outra no quarto de hotel”, recorda.

A ousadia de persistir no sonho, àquela altura impossível, valeu a pena. Hoje ele protagoniza o musical “O Homem de La Mancha”, em cartaz no Teatro do Sesi-SP de quarta a domingo, sempre com ingressos esgotados e eleito melhor espetáculo de 2014 pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).

Baccic em um dos momentos dramáticos de Dom Quixote em “O Homem de La Mancha” | Crédito: Fiesp/Sesi-SP Divulgação

Baccic em um dos momentos dramáticos de Dom Quixote em “O Homem de La Mancha” | Crédito: Fiesp/Sesi-SP Divulgação

Para Floriano Nogueira, diretor cênico associado do espetáculo, a trajetória de Baccic está diretamente ligada à dedicação e a entrega que ele demonstra diante de cada cena. “O bom ator precisa ter mais que talento. Ele deve saber transformar a informação que recebe e colocá-la em prática na cena. Parece incrível, mas essa é uma disponibilidade que sempre enxerguei nele, e que poucos têm”, ressalta Floriano.

No palco, Baccic se divide entre os delírios de Miguel de Cervantes, Alonso Quijana e Dom Quixote – o Cavaleiro da Triste Figura. A história original da peça, ambientada em um calabouço da Inquisição, foi transportada pelo diretor Miguel Falabella para um manicômio brasileiro do final da década de 1930, comandado informalmente pelo Governador, personagem inspirado no artista plástico autodidata Arthur Bispo do Rosário, que ficou internado por 50 anos na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro. Diagnosticado como esquizofrênico-paranoico, Bispo transformava objetos do cotidiano recolhidos no lixo em peças extremamente detalhadas, que repercutiam conceitos das vanguardas artísticas e das produções elaboradas a partir de 1960.

Estar rodeado pelas incertezas da loucura parece fascinar Baccic. Fio condutor de uma trama que provoca uma intensa reflexão sobre os limites entre o real e o imaginário e sobre aquilo em que escolhemos acreditar diariamente, quando perguntado sobre qual tipo de loucura o assusta, a resposta vem de forma imediata. “Tenho medo desse comportamento de extrema direita diante da vida, do playing safe, de nunca sair da zona de conforto. Loucura para mim é não se permitir”, resume.

 

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