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Edição nº 6 – 2016

A discussão não é nova, tampouco o conflito. Mas a visão crítica do autor israelense Amos Oz traz, sob uma perspectiva diferente e atual, novos elementos para a análise – e, quem sabe, para a solução – de uma disputa que se arrasta por mais de setenta anos.

O início da rivalidade entre judeus e árabes palestinos remonta à criação de Israel, em 1948. Desde então o clima de ódio e fanatismo se intensifica e dá corpo à cadeia de conflitos da região. E é essa intolerância que Amos Oz busca combater em seu livro Como curar um fanático.

Segundo o próprio autor, “boa literatura é a capacidade de fazer se abrir um terceiro olho na nossa testa”. E foi isso que ele fez. Composto por uma seleção de ensaios, preparados na forma de palestras entre os anos de 2002 e 2015, e uma entrevista, dada pelo escritor em 2012, o livro surpreende o leitor logo de início, quando este se dá conta de que dois ensaios são de 2002, um ano após o atentado de 11 de setembro nos Estados Unidos, e o outro é de novembro de 2015, logo após os ataques terroristas em Paris.

Diferentemente dos exemplos que nos contornam, Amos Oz não se aproveita dos acontecimentos ocorridos à época para incriminar a população árabe e, com isso, avivar uma guerra ou o ódio entre Ocidente e Oriente. Ao contrário, o escritor se vale desses episódios marcantes para discutir o conceito de fanatismo e propor soluções a esse infortúnio que, segundo ele, é mais antigo do que o islã, do que cristianismo e do que o judaísmo.

Tão antigo que pode ser considerado “mais velho do que todas as ideologias […], é um componente permanente da natureza humana, um ‘gene ruim’ que existe em quase todos nós”. O fanatismo nasce, na maioria das vezes, da “vontade imperiosa de modificar os outros pelo próprio bem deles”, e se desenvolve por meio da ignorância. Quanto mais complexas as questões se tornam, mais as pessoas anseiam por respostas simples: “Fanatismo e fundamentalismo muitas vezes têm uma resposta com uma só sentença para todo o sofrimento humano. O fanático acredita que se alguma coisa for ruim, ela deve ser extinta, às vezes, junto com seus vizinhos.”

Na esperança de um futuro florescente, o escritor sugere que cada uma das partes se coloque no lugar do outro. Segundo Amos Oz, “o desconhecimento quanto aos traumas profundos das duas vítimas impede que um acordo seja alcançado”. Esse exercício é necessário pois fará com que israelenses e palestinos vejam que o banho de sangue foi causado por “um choque entre o certo e o certo”, ou, a depender da ocasião, entre o errado e o errado. Não há mocinhos ou bandidos. A Palestina e os judeus israelenses reivindicam esse país porque não têm nenhum outro. Ambos são filhos – e órfãos – do meu pai: a Europa.

E por serem descendentes do mesmo progenitor deveriam ter maior facilidade em entender o motivo pelo qual nenhuma das partes quer abrir mão do território. Aquela terra, para ambos, é sagrada. Mas não é só sagrada, também é única a referência que esses povos têm da palavra casa.

Outro imperativo moral que pode – e deve – ser considerado em qualquer ambiente extremista é o que o autor chama de “gradações do mal”. De acordo com ele, é fundamental “prestar atenção às diferenças entre o que é ruim, pior e o pior de tudo”. Desconsiderar tais premissas significa colocar atrás das mesmas grades uma pessoa que roubou e uma que matou a mãe.

Apesar de o livro ter sido escrito por um dos fundadores de um movimento pacifista em Israel, as lições e os conceitos trazidos por ele extrapolam essa base territorial. O leitor é convidado a compreender, tolerar e, quem sabe, aceitar, certas fragilidades humanas. Nos dias de hoje, entender que “boas cercas fazem bons vizinhos”, vale, sobretudo, para ambientes sem cercas.

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