São Paulo foi considerada em 2014 pela Global Language Monitor – empresa especializada em análise e consultoria de mídias – a 15° cidade de maior evidência mundial para a indústria da moda. Se contarmos apenas as metrópoles latino-americanas, seu título eleva-se ao topo da lista.
Devido a esse status e como consequência dele, a cidade brasileira é bombardeada pelos principais eventos que alimentam a indústria da moda em terras tropicais – desde as feiras de fios, tecidos e aviamentos aos bureaux de tendência e estilo. Desfiles como os promovidos pela São Paulo Fashion Week e a Casa de Criadores determinam de seis em seis meses o zeitgeist que definirá nosso consumo nas próximas estações.
Por fim, essa estética é comprimida em lançamentos quase diários de produtos e coleções completando o sistema cíclico da moda. Nossa sociedade é vulnerável a uma busca constante pela novidade e, ainda que por vias inconscientes, consumimos as cores, as tecnologias e as silhuetas que a poderosa indústria fashion impõe.
Mas, “moda” não é um sinônimo para “roupa. Portanto, se por um lado seu viés comercial e comportamental recebe altos investimentos do Estado e exposição por parte da grande mídia, onde encontrar os eventos de vertentes culturais de moda em São Paulo?
Basta observar a bossa que a cultura paulistana tem para perceber a preocupação dos atuantes. Aqui as expressões artísticas vêm há tempos tomando consciência da disseminação da moda como manifestação cultural e garantindo que seu espaço seja devidamente ocupado na cidade. O Circuito de Moda e Arte é um desses eventos que, a partir de palestras, mostras de cinema e debates, evidencia este particular viés.
Fernando Zelman, que, ao lado de Danilo Blanco, é idealizador da ação, afirma que há alguns anos esta luta pela introdução da moda na área cultural era mais complexa: “Quando começamos a promover exposições e mostras de moda ou de artes visuais com a participação de estilistas, o questionamento se moda faz parte de nossa cultura era contínuo e vindo de instituições que não poderiam ter este tipo de postura”. A dupla acredita que esta mentalidade tem mudado gradativamente, mas que foi apenas com apoio do Ministério da Cultura que a discussão teve fim.
Ocorrendo duas vezes por ano em paralelo e com aval da SPFW, as vozes que formam os debates do Circuito de Moda e Arte são potentes: novos talentos da área dividem palco com nomes de importância nacional como João Braga, Alexandre Herchcovitch, Paulo Borges, João Pimenta e Glória Coelho.
Apesar de haver na moda uma tendência em motivar a exclusividade – desfiles, eventos e lançamentos em geral não são abertos ao grande público – no Circuito as palestras são livres e gratuitas: “Nossa proposta é democratizar e descentralizar o acesso à cultura de moda, razão de primarmos pela gratuidade em todas as ações, assim como estimulamos que todas elas tenham uma linguagem acessível, que possa beneficiar tanto os leigos como os entendidos em moda” conclui Zelman. Com incentivo do MinC através da Lei Rouanet, a mostra almeja alcançar o maior número de pessoas, sem nenhum tipo de exclusão.
A Semana de Moda e Cultura com curadoria de Dhora Costa é mais um exemplo genuíno de introdução da moda no cenário cultural paulistano. O ciclo de palestras, desfiles, lançamentos de livros e exposições ocorre em sua maioria na Livraria Cultura – instituição idealizadora da ação – do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. O objetivo do evento é disseminar gratuitamente uma moda para pensar, associando-a com outros diversos temas como o cinema, a música, a literatura, a dança contemporânea e as artes em geral.
O Por Dentro da Moda é idealizado pelo Senac e propõe a ampliação do repertório de moda por meio de palestras que são ministradas durante longos meses em diversas unidades da instituição na cidade de São Paulo. Aqui os debates são igualmente gratuitos e abertos ao grande público.
Os ávidos por cultura de moda devem também redobrar sua atenção nas programações de centros culturais como o MIS, Itaú Cultural, MAB-FAAP e Instituto Tomie Ohtake. Ainda que não tenham o foco voltado para a área, frequentemente essas instituições apoiam exposições de estilistas ou mostras de figurinos de filmes ou peças em voga. Nestes já aconteceu, respectivamente, a exposição “David Bowie” que contava com as peças de roupas usadas nos shows do visionário artista; a iniciativa “Ocupação Zuzu” com foco na estilista brasileira Zuzu Angel; a “Fábrica do Dr. F” com performance que mostrava o processo de construção de coleção do estilista Fause Haten; e a exposição “Obsessão Infinita” com a artista Yayoi Kusama, cuja arte caracterizada por poás estampou uma das coleções de Marc Jacobs para a Louis Vuitton.
A própria Virada Cultural já abraçou a cultura de moda a exemplo do espetáculo “Contorno”, no qual bailarinos da São Paulo Companhia de Dança realizavam uma performance e em paralelo havia projeções de vídeo-arte e exposição das peças do estilista em ascensão Vitorino Campos, recém-mostradas na SPFW.
O vasto leque que a cidade proporciona para os amantes das expressões culturais aos poucos vai interagindo com figurinos, estilistas, aspectos comportamentais, estéticos e históricos da moda a fim de que, além de ouvir, assistir e dançar ao seu som, seja possível também que o público paulistano vista-se de cultura.
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